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Morre Max de Quental, lenda de Âlesund, e Lagoa da Sucuri, na Chapada, perde ermitão

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Fhored Uerba

Depois que deixei as trincheiras da imprensa para viver a natureza em meu reduto vizinho à Lagoa da Sucuri, a notícia mais triste que poderia esperar me chegou nesta madrugada. Faleceu um irmão.

Reto, direto, ácido muitas vezes, mas que sempre empunhou a verdade em seus artigos recordistas de curtidas no Facebook, Max de Quental era mais que um articulista crítico.

Em um gesto de extrema humildade e companheirismo havia me pedido que tomasse o seu espaço em Notibras por sentir que a sua saúde era breve. Argumentei que não, que um guerreiro não se cala. Mas ele agora está mudo. Deixou nosso mundo em terras distantes, de onde veio.

Filho de uma norueguesa e de um português, Max era uma figura emblemática. Não acredito que tenha a sua dimensão, mas vou honrar o seu pedido e tentar cobrir a lacuna deixada por ele no mais importante portal de notícias independente do país, que a nenhum grande grupo de comunicação pertence.

Essa era a sua premissa para escrever, e dizia: “Nunca vou escrever para as famílias Marinho, Saad e Santos. Se não escrevo para os demônios, então também não escrevo para os santos”, uma referência ao bispo Macedo, da Rede Record.

Max de Quental era assim, intempestivo e irreverente. Detestava bandidos e amigos de bandidos. Foi alfabetizado no Brasil, criado por uma família de acadêmicos a partir dos cinco anos, quando seus pais morreram em um trágico acidente de trem na Europa. Nunca comentou nada sobre isso. Apenas fazia referência sobre sua cidade natal, Âlesund, considerada a capital do bacalhau que tem 40 mil habitantes.

Pesquisei e descobri que a cidade foi destruída por um incêndio no início do Século XX. Max deixava rolar uma lágrima quando fazia referência a Âlesund, mas eu fingia não perceber e mudava de assunto.

Agora recebo de herança a obrigação de voltar às páginas de Notibras e tentar honrar a sua sapiência, seu humor elaborado, sua cultura. Ele me devolveu essa responsabilidade, a mesma que entreguei quando decidi viver recolhido no perímetro da Chapada dos Veadeiros, onde não tenho nem CEP.

Mas a vida segue. Farei o máximo para merecer os créditos do amigo Max, preservando sua maneira de ser e de ver o mundo dos bons. Os que sobrarem – os bons – terão toda a atenção. Em nome de Max de Quental, os maus vão arder em terras nórdicas onde ele estará para sempre a partir de agora.

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