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Morte de Roriz para campanha eleitoral em Brasília

Foto/Arquivo Notibras

As bandeiras pararam de tremular. Os jingles distribuídos pelas redes sociais foram silenciados. Os ataques, contidos. Foi assim que Brasília amanheceu nesta quinta-feira, 27, ao receber, com tristeza, a notícia da morte do ex-governador Joaquim Roriz. Uma justa homenagem dos candidatos que desejam chegar ao Palácio do Buriti (que ele ocupou em três oportunidades), ao Senado (onde ele também esteve), à Câmara dos Deputados e à Câmara Legislativa.

Roriz, que morreu às 7h50 desta quinta-feira, 27, deixou um legado ao povo de Brasília. Uma herança. São os seus feitos, suas obras e exemplos, a sua identidade, a sua marca pessoal que será passada de geração em geração. O corpo será velado no Memorial JK e sepultado no Campo da Esperança.

Joaquim Roriz nasceu em 0 de agosto de 1936 em Luziânia, Goiás, filho de Lucena Roriz e de Jerzuleta de Aguiar Roriz. Bacharel em ciências econômicas pela Universidade Federal de Goiás e em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Uniceub, ele trabalhou como contador do governo de de Goiás, fiscal de rendas e dirigiu o Departamento de Trânsito de Luziânia.

Iniciou sua carreira política como vereador de Luziânia nos anos 1970. Posteriormente, Roriz foi eleito deputado estadual. Nos anos 1980, foi deputado federal, vice-governador do Estado de Goiás e foi indicado como prefeito de Goiânia.

Em 1988, Roriz foi indicado como governador biônico do Distrito Federal pelo então presidente José Sarney. Foi um amigo em comum, o empresário Wanderley Valim, que apresentou os dois e sugeriu a Sarney que nomeasse o goiano para governar Brasília. Ele também teve uma breve passagem pelo Ministério da Agricultura no Governo Collor, mas logo renunciou para virar governador – de novo, agora pelo voto.

Eleito, teve como vice-governadora a filha do fundador de Brasília, Márcia Kubitscheck. E durante seu governo adotou a política de distribuição de lotes. No primeiro mandato, o seu maior compromisso foi criar o metrô. Segundo o jornalista Renato Riella, a ideia de construção do metrô surgiu em um almoço que durou mais de quatro horas no Hotel Aracoara, em abril de 1990, durante a campanha.

Roriz governou o Distrito Federal por 14 anos, e durante esse tempo criou várias cidades e regularizou invasões. Ficou conhecido como o governador das grandes obras. São do seu governo a ponte JK, o viaduto Ayrton Sena, o Complexo Cultural da República. Outra marca do seu governo que existe até hoje nas ruas de Brasília é a existência dos balões floridos, ideia do ‘jardineiro’ Ozanan Coelho.

No início dos anos 80, Roriz fundou o PT em Goiás, partido que posteriormente ele dizia que só tinha pessoas “com ódio no coração”. Ele renegou o passado vermelho, e dividiu o cenário político de Brasília conduzindo-o como se estivesse numa guerra santa entre o lado azul (o dele) e o vermelho (o dos petistas). Essa guerra santa fez o ex- governador algumas vezes pecar pelo destempero verbal.

Em 1994, quando fazia campanha para seu aliado Valmir Campelo, Roriz xingou a tucana Maria de Lourdes Abadia na frente de milhares de eleitores em um comício. Na época, Abadia era concorrente de Campelo, nome escolhido por Roriz para ser seu sucessor. A ofensa fez com que o PSDB migrasse o apoio para o PT, no segundo turno, ajudando Cristovam Buarque a se eleger governador.

Em outra ocasião, Roriz chamou um homem negro que o ouvia discursar de “crioulo petista”, o que resultou em queixa crime contra ele, no STJ. Roriz foi acusado de racismo.

Ele sempre apelava para as emoções dando um tom messiânico em seus discursos. Usava o nome de Deus, chorava e apelava de forma humilde para encantar os moradores das regiões mais pobres do Distrito Federal. Esse discurso emocional, recheado de carinho, beijos, abraços e muitos cochichos ao pé do ouvido era o que marcava o estilo Roriz no corpo-a-corpo nas ruas e conquistava o eleitorado.

Para se aproximar ainda mais do povo humilde, ele tropeçava na língua portuguesa com erros de concordância e pronúncia. Por isso, figurava sempre na coluna do jornalista Alexandre Garcia, no Fantástico, quando ele apresentava os fatos engraçados da vida política brasileira.

Na trajetória de Roriz, ao mesmo tempo em que havia o lado das vitórias eleitorais, também pesavam muitas acusações de improbidade administrativa, falsidade ideológica e crimes contra a fé pública. Mas, ao contrário de alguns ex-governadores e ex-vice-governadores, Roriz escapou das condenações e nunca chegou a ser preso.

Em 2006, Roriz foi eleito senador pelo DF, tendo renunciado ao cargo para escapar da cassação devido ao famoso escândalo da “Bezerra de Ouro”, que pôs um fim à sua carreira política.

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