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Fim nos trilhos

Morte espreita e sangue de Leandro ensopa o metrô

Publicado

Autor/Imagem:
Ana Pujol - Foto Produção Irene Araújo

Um dia antes de sua morte Leandro acordou e preparou um café da manhã reforçado. Tinha pressa, mas não deixava de se alimentar bem e de forma saudável.

Leandro era um homem comum, com uma rotina tão previsível quanto o movimento dos trens na estação de metrô.

Após o café partia para o trabalho, sempre cercado pela mesma multidão apressada. O que ele não sabia era que a morte o observava de perto, disfarçada em uma figura humana que se misturava àquelas mesmas pessoas.

Naquela manhã, Leandro estava mais distraído do que o habitual. Ele havia discutido com sua namorada na noite anterior e ainda sentia a amarga sensação de culpa e raiva pulsando dentro dele. Enquanto caminhava pela plataforma do metrô, seus pensamentos estavam longe, absortos nas palavras não ditas e nas promessas quebradas.

Foi então que ele a viu. Uma mulher de aparência enigmática estava encostada na parede, com um olhar penetrante que parecia atravessar a multidão. Ela vestia um vestido escuro que a tornava quase etérea. Leandro desviou o olhar, mas algo o puxava de volta para ela.

“Você está perdido, não é?” A voz da mulher era suave e ao mesmo tempo carregada de uma estranha certeza.

Leandro hesitou. “Como assim?”

“Você se preocupa mais com o que ficou para trás do que com o que está à sua frente.”, ela respondeu, sorrindo enigmática. “Mas talvez seja hora de você olhar para a verdade.”

Ele franziu a testa, confuso com as palavras dela. “O que você quer dizer?”

“Às vezes, as pessoas não percebem quando estão dançando com a morte,” ela disse, inclinando-se levemente para frente. “Ela pode ser sutil e até atraente.”

A frase ecoou na mente de Leandro enquanto ele tentava entender o significado por trás das palavras estranhas da mulher. Ele riu um pouco nervoso, tentando afastar a sensação desconfortável que começava a se instalar em seu peito. “Eu só estou indo para o trabalho,” disse ele, como se isso pudesse dissipar aquele momento bizarro.

“Sim,” ela respondeu, seus olhos brilhando com uma sabedoria sombria. “Mas você não sabe onde esse caminho pode te levar.”

O trem chegou e Leandro decidiu ignorar a mulher misteriosa. Ele entrou no vagão lotado e se afastou dela, mas as palavras continuam reverberando em sua mente. O dia seguiu como qualquer outro: reuniões maçantes, almoços rápidos e mensagens não respondidas de sua namorada.

No entanto, enquanto caminhava pelas ruas ao final do dia, uma sensação inquietante começou a surgir dentro dele. Era como se algo estivesse prestes a acontecer — uma presença invisível que o seguia pelas esquinas e pelos becos da cidade.

Existia uma aproximação da fatalidade enquanto Leandro continua alheio ao perigo iminente.

Naquela mesma noite, após um dia exaustivo, Leandro decidiu voltar para casa mais tarde do que o habitual. As luzes da cidade piscavam como estrelas distantes enquanto ele caminhava pela calçada iluminada por postes antigos. A figura da mulher ainda estava presente em sua mente, mas ele se esforçou para esquecer aquele encontro peculiar.

Quando chegou à estação de metrô novamente, algo parecia diferente no ar — uma tensão palpável pairava sobre os passageiros apressados. Leandro desceu as escadas correndo para pegar o trem e sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao cruzar com aqueles olhos enigmáticos novamente.

Ela estava lá.

“Você deveria ter prestado atenção,” disse ela com uma voz suave, mas firme.

“O quê?” Leandro perguntou, sem entender.

“Às vezes é preciso parar e ouvir os avisos,” ela respondeu enquanto gesticulava vagamente para as sombras ao redor deles. “A morte pode aparecer quando menos esperamos.”

Ele riu mais uma vez, tentando afastar aquela conversa estranha. “Estou bem,” afirmou ele sem convicção. Pensando na loucura que emanava daquela mulher que agora era mais palpável. O rosto bem maquiado, um batom vermelho e um laço de veludo preto prendia seus cabelos compridos.

Na manhã seguinte, depois de sua rotina matinal, entrou na estação do metrô sem pressa. Não viu a figura da mulher na plataforma e ficou até aliviado, na noite passada tinha feito as pazes com a namorada.

E foi nesse momento que tudo aconteceu muito rápido, a estação estava lotada de gente e o trem atrasado: um grito cortou o ar, seguido pelo barulho ensurdecedor dos trilhos sendo atingidos por um trem em alta velocidade que perdeu os freios. A visão do perigo se aproximando fez seu coração disparar — mas não havia tempo para fugir. Empurrados pela multidão algumas pessoas caíram nos trilhos. A angústia de Leandro por fim percebe seu destino cruel no último segundo; ele não conseguiu escapar daquilo que estava à espreita, ditas nas palavras da mulher imortal…

A morte encontrou seu caminho até ele naquela manhã fatídica na estação de metrô — onde os trilhos se tornaram seu leito final e as luzes da manhã na cidade se apagaram em um piscar de olhos.

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