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Moucos ainda apostam em Bolsonaro, apesar das pesquisas

Desde que tornei públicos meus escritos, entendo com perfeitamente normais as queixas – na verdade críticas ferozes – de pelo menos cinco dos meus seis leitores. Também é natural que eles me cobrem a mesma veemência quando me refiro a outras personagens da política nacional. A resposta é simples. Falar ou escrever de quem está ausente ou ainda não faz parte do cenário a ser descrito é, no mínimo, injustiça. Falei deles quando houve necessidade e, em breve, falarei novamente. Tenham certeza disso. Fazendo uma correlação com o esporte, dez entre dez cronistas esportivos escrevem dia e noite sobre o Flamengo, Atlético Mineiro e Palmeiras, considerados hoje como times de grife, consequentemente os que precisam ser batidos. Respeitosamente, falar do Vasco da Gama, Cruzeiro e Botafogo é chover no molhado, é chutar cachorro morto. Como na vida pública, voltarão ao noticiário no dia em que voltarem à ribalta.

Por enquanto, José, João, Manoel, Amoedo, Ciro, Dória, Mandetta e Luiz Inácio, entre outros, não passam de aspirantes ao estrelado mundo das celebridades. Tanto que nenhum deles está nos Estados Unidos para um convescote regado a discursos pífios, recados vazios e nenhum resultado prático. É mentira ou perseguição essa afirmação? Isolado, desacreditado e abandonado pela comunidade internacional, notadamente a que compõe a lista dos 20 países mais ricos do mundo, o presidente da República Federativa do Brasil abre na terça, 21, a 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas. Será sua terceira vez sem ter o que mostrar nesse seleto palco, que, desde 1955, tem no mandatário brasileiro a primazia da abertura solene da reunião. Ainda não sabemos se haverá alguma conversa ou encontro bilateral, mas deve ser o primeiro tête-à-tête com o líder norte-americano, Joe Biden, execrado pelo mito tupiniquim do início ao fim da vitoriosa campanha contra tio Donald Trump.

Perdoem-me antecipadamente os homens e mulheres que ainda acreditam em duendes, mas a pergunta que não quer calar não é apenas minha, mas de centenas de milhões de brasileiros. O que o presidente Bolsonaro tem a dizer? Que não se vacinou e que odeia quem o fez? Que não comprou vacina a tempo por absoluta falta de interesse? Ou que apostou na ivermectina porque, desde menino, aprendeu a usar fake news contra tudo? Deve falar alguma coisa, menos repetir que o Brasil e o agronegócio têm a melhor legislação ambiental do mundo. Talvez seja vaiado se reiterar que “nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior”. Pior será reafirmar que, ao contrário do que atestam os cientistas, a Amazônia não é patrimônio da humanidade e a floresta pulmão do mundo. Quer queira ou não, ele está redonda e idelogicamente equivocado.

Em outras palavras, esqueça qualquer frase relativa ao meio ambiente ou à proximidade do Brasil com o socialismo e com a corrupção. Se o passado nos condenou sem direito a habeas corpus, o presente nos isolou como se fôssemos sarna ou um vírus de letalidade infinitamente superior à Covid-19. Por isso, melhor fazer referência ao Campeonato Brasileiro de Futebol ou à Copa do Brasil. Na prática, melhor ainda será juntar no plenário da ONU o aglomerado de ministros e assessores que viajaram às expensas do Erário, convocar o astrólogo, guru e ex-eminência parda do governo (o ideólogo Olavo de Carvalho) e reeditar a live da última quinta-feira (16), quando disse que faria “um discurso tranquilo, bastante objetivo e focado nos pontos que interessam para nós, as verdades do Brasil”. As mentiras são conhecidas de todo o planeta. Ou seja, deitar falação sobre o sexo dos anjos para os ouvidos moucos da turma do cercadinho. .

Moucos porque fazem questão de não ouvir os rancores das ruas. Dia desses, um deles indagou de onde vêm os eleitores que garantem expressiva porcentagem de aprovação “ao sem dedo”. Ele mesmo respondeu que não é das ruas, do comércio, do campo, das fábricas ou das diversas regiões brasileiras. Meu caro, eles estão nesses segmentos e em todos os rincões brasileiros. Talvez não sejam encontrados somente em sua casa ou no cercadinho do Palácio da Alvorada, para onde seguem os que, como você, esperam diuturnamente pela entrada de Papai Noel em sua chaminé. Sinceramente, não merecem crédito aqueles para quem pesquisa boa é aquela que pode ser usada como instrumento pessoal de vitória. O povo que se dane. Por que quando vocês pensam em defender o mito recorrem sempre a Luiz Inácio? Do que têm medo? De que ele volte e retire os privilégios que conquistaram sem esforço algum?

Será que o mundo inteiro está errado em relação a Bolsonaro? Parecem o bêbado pego dirigindo na contramão e jurando para o guarda que ele é que está certo. Semana passada, a imprensa internacional, com destaque para o jornal inglês The Guardian, e o norte-americano Washington Post, além da agência de notícias Associated Press, denominaram Bolsonaro de “desafiador” da honra da ONU, acusando-o de pretender “zombar” das regras da entidade e da cidade de Nova York. A referência tem a ver com a informação da falta de vacina. Triste para um mandatário que se vê como formador de opinião. Uma pena, mas há pouca ou nenhuma esperança para quem está determinado ao fracasso. Não há vitória para quem, preocupado apenas em golpear, se sente derrotado antes mesmo de lutar. Que tenhamos melhor sorte na próxima encarnação presidencial.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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