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MST fará reforma na terra de Maduro após acordo com China de Xi

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, hoje alvo de admiração internacional, passou o ano de 2023, na China, para desenvolver seus conhecimentos de agricultura familiar em contado com a experiência histórica chinesa de reforma agrária realizada pela revolução de 1946, comandada por Mao Tse Tung.

O objetivo do MST é transplantar a experiência para o Brasil, dispondo da infraestrutura disponível pelos chineses, em matéria de organização, planejamento, financiamento para implementar mecanização e modernização na produção agrícola brasileira.

Mas, tal proposição não está sendo possível implementar no Brasil por conta do amplo domínio político agrário comandado pela grande propriedade, radicalmente contrária à reforma agrária para modernizar o capitalismo brasileiro, com fortalecimento do mercado interno e melhor distribuição da renda nacional, como aconteceu com todos os países capitalistas desenvolvidos que passaram pela experiência histórica.

A alternativa do MST foi buscar na Venezuela a oportunidade de negociar com o governo Nicolás Maduro, de esquerda, nacionalista, interessado na experiência brasileira dos trabalhadores em terra, na expansão da agricultura familiar.

As negociações entre o presidente Maduro e o MST amadureceram rapidamente com a decisão do presidente venezuelano de dispor de 10 mil hectares de terras para iniciar a experiência, tendo como pano de fundo o exemplo histórico da reforma agrária chinesa e recursos financeiros disponíveis negociados entre Venezuela e China para disseminar amplamente no país o desenvolvimento agrário sob pequena propriedade.

A expectativa do MST e da Venezuela é grande, sabendo que o resultado da produção terá amplo mercado não apenas, interno como externo, com possibilidade de exportação para o país de Xi Jinping, maior consumidor do mundo.

As condições políticas favoráveis na Venezuela, sob poder bolivariano-chavista, apoiado pela aliança cívico-militar, contribuem decisivamente para dar maior rapidez à realização do projeto.

Sob a orientação política PSUV – Partido Socialista Unido da Venezuela –, Maduro acelera a parceria econômica e política com os chineses, que têm disponibilidade de recursos para financiar a mecanização e modernização da produção agrícola venezuelana.

A moeda de Maduro para garantir a reforma agrária na Venezuela, evidentemente, é o petróleo. Trocar óleo pelo financiamento agrícola com experiência consagrada do MST na oferta de alimentos de qualidade tende a mudar o panorama econômico venezuelano no sentido de ampliar a base produtiva nacional, capaz de favorecer a industrialização, com a qual o governo alcançará, segundo editorial do jornal “Correo Del Orinoco, porta-voz do governo bolivariano-chavista, estabilidade monetária, fortalecendo a moeda nacional, graças à expansão industrial.

A estratégia atende tanto o mercado interno como externo com a produção barata capaz de elevar produtividade agrícola continental como fator favorável ao aumento da oferta a preços competitivos com inflação baixa.

A China oferece amplos recursos para os pequenos e médios produtores, em pequenas e médias propriedades, obterem máquinas e insumos financiados por fundos de investimentos públicos chineses a juros baratos.

É o mesmo esquema de organização e planejamento da produção agrícola em pequenas e médias propriedades existentes na China, que se desenvolveu a partir da revolução nacionalista-socialista, comandada por Mao Tse Tung.

A reforma agrária chinesa está sendo exportada para a América do Sul e, igualmente, para a África, onde a China, nas últimas semanas, anunciou contratos com governos africanos da ordem de 50 bilhões de dólares.

A África tende a ser fornecedora de alimentos à China a preços mais baratos do que os ofertados pela América do Sul devido à redução significativa no preço dos transportes. A África fica entre a América do Sul e a China, no meio do caminho, encurtando distâncias.

As relações do governo da China com o MST têm sido intensas, como relata o líder do movimento agrário popular, João Pedro Stédile.

Liderando grupos de agricultores, Stedile passou temporada na China, para tomar pé da organização popular agrária existente no país, com as determinações políticas comandadas pelo Partido Comunista.

O objetivo de Xi Jinping, seguindo a orientação histórica traçada pela revolução de Mao Tse Tung, é tornar os chineses a maior potência agrícola do planeta, em parceria com os movimentos agrários que pretendem estimular para mudar o perfil econômico da agricultura mundial, dominada pelo capitalismo americano.

Pequim objetiva incrementar o projeto principalmente por meio dos países dos BRICS, no Sul Global, que já ultrapassam o G-20 pelo critério de paridade do poder de compra na conformação do PIB.

O agronegócio brasileiro da grande propriedade, dominado, atualmente, pelos poderosos fundos de investimentos que financiam a produção e a distribuição agrícola em grande escala, está amplamente dominado pelos monopólios econômicos e financeiros internacionais.

Esse modelo entra em choque com o praticado pela China, que se espelha na revolução agrícola chinesa implementada pela reforma agrária maoista, base do capitalismo assentado na pequena e média propriedade financiada pelo crédito público, bancos estatais chineses.

Com esse suporte, Stédile diz que a agricultura familiar implementada pelo MST tem amplas condições de abastecer o mercado nacional, sul-americano e chinês.

Trata-se de organizar e planejar a produção em escala internacional. O x do problema, no entanto, é político, como a história brasileira tem demonstrado à larga.

No Brasil, domina a agricultura o latifúndio financiado pelos fundos de investimento, para compra de máquinas, implementos agrícolas, sementes, agrotóxicos, cuja força política se faz presente no Congresso dominado pela bancada do agronegócio bolsonarista.

Portanto, o agro é dependente do capitalismo internacional em sua fase ultra financeira que mantém os agricultores sob permanente endividamento para sustentar a infraestrutura produtiva a juros altos, levando-os à instabilidade conjuntural e estrutural, tendo a propriedade territorial como garantia dos empréstimos.

O governo Lula não tem tido a força necessária para fazer a reforma agrária nos moldes da pequena propriedade como alavanca do movimento político do capitalismo no campo.

Não dispõe de número suficiente de representantes no parlamento para aprovar providências legislativas do interesse do MST e suas demandas sociais e econômicas.

Por isso, Stédile está negociando com o presidente Maduro para iniciar o movimento de expansão do MST na Venezuela.

Lá, a situação política é radicalmente diferente: o governo bolivariano-chavista nacionalista tem maioria na Assembleia Nacional para aprovar as medidas necessárias capaz de levar adiante reforma agrária no país.

O chavismo, rico em petróleo, tem condições de ampliar negociações geopolíticas com a China – e já faz esse trabalho com a Rússia –, pois realizou mudanças políticas internas que asseguram o poder político do PSUV com amplo apoio popular.

Trata-se de conjuntura oposta à que vigora no Brasil em que o governo de esquerda, não está tendo autonomia nem financeira, subordinado ao ajuste neoliberal imposto pela Faria Lima, nem econômica, amarrado por maioria congressual de direita e ultradireita, cujo interesse maior é desestabilizar o governo Lula.

O arcabouço neoliberal, sustentado pela aliança Faria Lima-Congresso, que assegura prioridade, não ao desenvolvimento sustentável, mas ao pagamento de juros e amortizações mediante Selic de 10,25%, é o garrote que impede desenvolvimento sustentável e inviabiliza reforma agrária.

Tal conjuntura, marcada pela restrição monetária pró-rentismo, antinacionalista, empurra, agora, o MST para a Venezuela, onde Nicolás Maduro abre os braços para recebê-lo, sob aplauso de Xi Jinping.

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