Até a sombra assusta
Mulher no Brasil vive com medo do bicho-papão

Ser mulher é viver em estado de vigilância constante. É calcular rotas, olhar para trás, mandar localização ao sair de casa, atravessar a rua se sentir alguém muito próximo. É evitar roupas, evitar olhares, evitar horários.
Muitas de nós deixamos de fazer coisas simples — como caminhar à noite com o cachorro, correr no parque ao entardecer, voltar a pé de uma confraternização com amigas. Evitamos não porque queremos, mas porque temos medo.
Medo de sermos assediadas, seguidas, atacadas. Medo do que pode acontecer se estivermos sozinhas, num espaço público, mesmo em nossa própria vizinhança.
Enquanto nossos corpos forem vistos como território livre para a violência, nossa liberdade será parcial, nossa autonomia será condicionada, nossa tranquilidade será sempre interrompida por uma sensação difusa, mas constante, de risco.
Queremos viver em um mundo onde as mulheres não precisem ter medo de existir. Onde andar com o pet à noite seja apenas isso: uma caminhada tranquila, e não um ato de coragem.
