Girassóis do mundo
Mulher, ser único, é a beleza diária em forma de eterna poesia
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emTudo começa no prazer, seguido de uma gestação. Daí, nasce uma estrela, nasce a mulher. Perdão pela falha logo na segunda frase, mas, copiando a escritora e ativista francesa Simone de Beavoir, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Com todas as vênias às meninas, moças, moçoilas, damas, fêmeas, senhoritas, senhoras, namoradas, noivas, cônjuges, parceiras e mães, mulher é um ser único, ao qual devemos todas as honras e glórias, além de um bem ainda impossível de negociação: a vida. Poema primitivo na lista de declamações do homem, ela é o símbolo maior da perfeita imperfeição humana. Por obra e graça de Deus, Maria concebeu sem pecar. Antes disso, Eva desobedeceu ordens, comeu o fruto proibido, foi expulsa do Paraíso e o restante da história nem ela nem Adão me contaram.
Conforme algumas teorias, na prática o Pecado Original, “inventado” por Santo Agostinho, é um suspense sensual sobre o poder perigoso e, por vezes, letal do amor e da paixão. Longe da eternidade da maçã e da voracidade da serpente, importante é a simbologia feminina, representada graficamente pela imagem que remete à deusa mitológica Vênus, ligada ao amor e à beleza e equivalente à Afrodite na mitologia grega. Metido a poeta nas horas de conflito interno, me permito conviver intimamente com os maiores encantadores de mulheres de minha existência. Por exemplo, como esquecer Calderón de La Barca, para quem o homem é a síntese do mundo; a mulher é o céu desse homem. É a mais pura e verdadeira verdade.
A mulher é tão fascinante que, ao longo da vida, muitos de nós, homens imbecilizados pela beleza feminina, já foi capaz de mentir para conquistar uma dessas fadas. O melhor é que a maioria preferiu acreditar na própria mentira para não perdê-la. Ouvi isso de um nordestino simplório chamado Guibson Medeiros e, obviamente, de imediato incorporei à minha extensa lista de elogios às representantes do sexo forte e destemido. E elas realmente são tudo isso. O que nos falta é tutano para perceber que mulher tem sensibilidade e, por isso, não necessita de raciocínio para ter sabedoria. “Seu balançado realmente é mais que um poema. É a coisa mais linda que já vi passar”.
Sem pedir licença àqueles que ainda não conhecem a divindade feminina, naturalmente cheia de graça, afirmo que, se as mulheres não tivessem os defeitos que os homens normalmente lhes apontam, seriam quase perfeitas. Para mim, são, pois não precisam de assunto. Costumo assumir o irrelevante papel de homem feliz logo após lembrar que meu antônimo se transforma em fera sem perder a graça de ave. E sabem por quê? Porque nelas tudo é coração. Até a cabeça. Por essa e outras razões, sempre me utilizo da máxima de Sócrates: “Deve-se temer mais o amor de uma mulher do que o ódio de um homem”.
Não foram poucos os homens que reconheceram essas virtudes nas damas. Já nonagenário, o mestre Oscar Niemeyer disse certa vez que “nada é mais importante do que a mulher. O resto é baboseira”. Quem discordar dessa tese que atire a primeira pedra. Eu não ousaria. Pelo contrário. Sigo a genialidade do filósofo romano Seneca, cuja definição feminina é tão simples como o resultado de dois mais dois. “Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidade para admirar partes isoladas”. Todo esse longo, mas necessário preâmbulo, é para homenagear todas as mulheres desse mundão, em especial aquelas com as quais convivo diária ou eventualmente.
Oficializado em 1921, o Dia da Mulher é comemorado desde março de 1917, após uma manifestação de mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho. As mesmas russas que agora, 105 anos depois, certamente lutam contra um ditador sanguinário que trata suas esposas e concubinas como deveria ser tratado: a ferro e fogo. Embora seja uma celebração de conquistas sociais, políticas e econômicas, o Dia da Mulher bem que poderia ser perene como uma plantação de girassóis, a flor nacional da Ucrânia. Que bom se pudéssemos encher o mundo de girassóis.
Homens do meu Brasil varonil, não esqueçamos que, além de eterna poesia, as mulheres formam a metade do mundo. A outra metade são os filhos dela.