A presença da mulher no mercado de trabalho, lutando pelos mesmos direitos e condições que o homem, em busca de independência socioeconômica, tem aumentado o número de famílias com chefias femininas, levando, muitas vezes, ao adiamento da gravidez. Conclusão: o planejamento familiar começa a ser pensado quando a mulher tem quase 40 anos, ou seja, não em seu período mais fértil.
Dados do IBGE mostram que a taxa de fecundidade da população brasileira vem caindo rapidamente. Em 1970, a mulher brasileira tinha, em média, 5,8 filhos, enquanto que nos dias de hoje essa media já está em 2,1 filhos.
Este cenário é alarmante, no sentido de causar prejuízos sociais diversos. No âmbito econômico, quem irá sustentar uma população com alta expectativa de vida e uma taxa de fecundidade cada vez menor? De qualquer maneira, é ainda mais preocupante que muitas mulheres e homens sonhem com um filho e, quando veem que a família nestes moldes não será formada, desenvolvem doenças como depressão e outras síndromes psíquicas, e podem até se separar de seus cônjuges.
Sylvia Ann Hewlett, autora do livro “Creating a Life: Professional Women and the Quest for Children” (Criando uma Vida: Mulheres Profissionais e a Busca por Crianças), publicado em 2002, entrevistou 1.200 executivas americanas e percebeu que a maioria delas não tinha a real percepção dos impactos do envelhecimento em sua capacidade reprodutiva.
Essa é uma crença cultural, que pode ser observada em vários locais do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, é um engano. A fertilidade da mulher começa a diminuir gradativamente em tenra idade, aos 25 anos.
É necessário esclarecer à população que os óvulos são formados ainda na fase intrauterina. Um feto tem 7 milhões de óvulos. Ao nascer, o bebê perde 5 milhões. Na puberdade, restam à mulher 400 mil gametas e, a cada ovulação, são perdidos de 800 a mil deles.
A partir dos 40 anos, 80% dos restantes apresentam anormalidades, o que deixa a mulher com apenas 5% de chances de engravidar. Aos 45, as chances são de 1%, no máximo. As estatísticas são implacáveis.
Mas não é só isso. A gravidez não é um acontecimento tão fácil. Naturalmente, a infertilidade está presente em aproximadamente 15% a 20% dos casais. Nesse universo, 35% dos casos são atribuídos a problemas masculinos, 35% a problemas femininos, 20% aos dois e nos outros 10% o problema é desconhecido. Pelo menos 50% desses casais só irão conseguir uma gravidez utilizando tratamento com técnicas de reprodução assistida.
Um dos métodos mais eficazes para atingir esse objetivo é a fertilização in vitro e transferência de embriões, que aumentam as chances de conseguir uma gravidez. Outra alternativa viável é o congelamento de óvulos, uma técnica com bons resultados.
Quanto mais cedo a mulher fizer o procedimento, maiores as chances de sucesso. Por exemplo, se isso for feito aos 30 anos, aos há 50% de probabilidade da implantação dos óvulos dar certo quando a mulher estiver com 40 anos.
Além disso, é possível associar técnicas para diagnosticar possíveis alterações cromossômicas e genéticas nos embriões antes de transferi-los para o útero. Por meio de biópsia de uma célula do embrião, são analisados alguns pares de cromossomos, ou até mesmo todos, para evitar abortos espontâneos.
São louváveis os esforços de governos e ONGs para incentivar o planejamento familiar adequado. No entanto, atualmente a impossibilidade de engravidar é sim um problema de saúde pública silencioso, que resulta em danos à qualidade de vida da sociedade como um todo e dos indivíduos.
Hoje em dia já existem alternativas para preservar os gametas quando se pensa em uma gravidez tardia, mas é necessário explicar isso à população.
Flávio Garcia de Oliveira