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Mulheres olímpicas mostram que hegemonia do homem é uma farsa

O Brasil chegou ao último dia dos Jogos Olímpicos de Paris com 20 medalhas na bagagem dos 277 atletas. É muito? Muito pouco para nossa grandeza e quase nada se compararmos a pátria amada às nações com população infinitamente menor e com uma economia reconhecidamente menos poderosa. O Uzbequistão e o Quênia que o digam. Então, o que houve? Nada de novo. Os menores e mais respeitosos investem, oficial e oficiosamente em seus desportistas. No Brasil, a ordem é faturar e faturar os parcos e normalmente solitários troféus. Contribuir e participar são meros detalhes. E depois ainda querem exigir vitórias, como fizeram no Japão, em 2021, com Ana Patrícia, a atual campeã do vôlei de praia.

A menina foi insultada, xingada e ameaçada virtualmente porque, sem ajuda alguma, sucumbiu nas Olimpíadas de Tóquio. Empresários e torcedores de meia tigela desrespeitaram não apenas a atleta, mas o ser humano que, certamente contra a vontade, falhou. Ana Patrícia, sua parceira Duda e todos os nossos medalhistas, incluindo Rebeca Andrade, Beatriz Souza, Caio Bonfim, Willian Lima, Gabriel Medina, Isaquias Queiroz, Alison dos Santos e as meninas do futebol e do vôlei de quadra, entre outros guerreiros, responderam às provocações imbecis e às críticas estúpidas e despropositais com pontos acima da média e merecidos pódios.

Tudo devidamente explorado por aqueles que, preferindo comer batata frita atrás do sofá, não colocaram uma pá de brita na dura estrada dos integrantes da equipe olímpica. Sem subterfúgios semânticos, fugiram da responsabilidade social, expressão com a qual adoram abrir seus discursos nas reuniões partidárias e nos encontros bajuladores do Lions e do Rotary Clube. Enfim, em Paris faltou, falta e, tudo indica, faltará sempre respeito e, principalmente, investimentos privados no desporto nacional. Não é o caso do futebol. No chamado esporte bretão, sobram recursos, maracutaias, empresários, dirigentes e jogadores milionários e falta o básico: respeito ao torcedor. É o Brasileirão Betano e das empresas de jogos malandreados.

Primo pobre do futebol, o desporto brasileiro, notadamente o individual, também desperta paixões, embora não disponha de apoio para alcançar o lugar que merece. Lamentável, mas é politicamente rentável para o tacanho e explorador empresariado brasileiro colar suas marcas nos vencedores. Não se atentam, porém, aos perrengues que eles (os vencedores) passaram até chegar ao pódio mais alto. É muito fácil para os poderosos e para os governantes federal, estaduais e municipais abrir suas mansões e seus palácios para hipocritamente receber nossos “heróis”. Mais fácil ainda é reivindicar um caminhão do Corpo de Bombeiros para acompanhá-los no desfile público.

Apesar de todas as dificuldades, o mais relevante da participação brasileira nas Olimpíadas da diversidade e da inclusão foi a força de nossas pobres, negras e segregadas mulheres. Elas brilharam na Cidade Luz. Das 20 medalhas conquistadas, as moças, mocinhas e moçoilas ganharam 13, o que prova que a superioridade masculina é mais uma fraude barata e sem sentido lógico. E por falar em paixão, não damos nenhuma importância à mulher do salto com vara, mas idolatramos a mulher da vara com salto. Aproveitemos o lema da revolução francesa (Liberté, égalité, fraternité) e pensemos como país que trabalha para chegar ao Primeiro Mundo. A lição de Paris é simples: os atletas brasileiros, particularmente as mulheres, só querem apoio e oportunidade para mostrar o quanto são fortes, grandes e competentes.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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