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Mulheres superam preconceitos e rompem barreiras na arquitetura

Toshiko Mori inspirou-se na arquitetura do Senegal para a Escola Fass, a primeira da região. Foto: Toshiko Mori via The New York Times

A arquitetura foi, durante muito tempo, classificada como uma “profissão de cavalheiros”, o que poderia ter sido válido se isso significasse uma profissão que excluísse sistematicamente as mulheres da maior parte da sua existência. Entretanto, antes da Segunda Guerra Mundial, era possível contar um certo número de arquitetas famosas. Já nos anos 1990, a porcentagem de estúdios de arquitetura de propriedade de mulheres nos Estados Unidos ainda era um único algarismo.

Hoje, cerca de 30% dos integrantes do Instituto Americano dos Arquitetos são mulheres, e uma pesquisa realizada entre os 100 principais estúdios de arquitetura do mundo mostrou que as mulheres ocupavam apenas 10% dos cargos mais elevados. Na primeira vez que uma mulher ganhou a medalha de ouro da AIA, sua mais alta honorificência, foi em 2014. E a vencedora, Julia Morgan, havia morrido 57 anos antes.

Mas há sinais de um avanço. Segundo o National Council of Architectural Registration Boards e a Association of Collegiate Schools of Architecture, o número de mulheres neste campo continua crescendo: agora, as mulheres representam cerca de 40% dos universitários que terminam o curso – um aumento de cerca de 50% em 20 anos.

Estúdios dirigidos ou de propriedade de mulheres estão criando uma série de edifícios públicos que apresentam um novo e revigorante conceito de arquitetura e urbanismo.

A arquiteta parisiense Manuelle Gautrand criou um local de acolhimento urbano com seu novo Belaroia Hotel, um projeto para uso misto na cidade de Montpellier, na França. Manuelle reúne um centro de conferências, hotel, lojas e apartamentos ao redor de um terraço público de cinco andares que olha para a cidade.

“A questão de como fazemos nossas cidades acolherem as novas populações é de suma importância. Este espaço pretende resolver o problema”, disse.

A arquiteta Amanda Levete e o artista Anish Kapoor, ambos de Londres, buscam algo semelhante com os espaços abertos na entrada do metrô que eles criaram para um bairro de Nápoles, na Itália. Duas maciças esculturas – uma de alumínio, a outra em aço Corten – marcam atualmente as duas entradas da estação Monte San Angelo. Embaixo da terra, Amanda incorporou os túneis de uma estação abandonada no restante de seu projeto. Com 7.400 metros quadrados, a obra deverá ser inaugurada no início de 2019.

Em outubro, quando for aberta a escola que Toshiko Mori projetou gratuitamente para a remota aldeia senegalesa de Fass, esta será uma obra importante do ponto de vista funcional e arquitetônico. É a primeira escola a ser construída em uma região onde há 30 mil crianças em idade escolar. No projeto oval de Toshiko, as paredes de tijolos de barro cobertas de reboco e o telhado de palha são uma visão moderna das tradições locais em matéria de habitação – um esforço para que o edifício seja bem recebido por seus 200 alunos, em idades que variam dos 6 aos 10 anos.

“Fico fascinada com a possibilidade de apresentar a linguagem popular com aplicações contemporâneas”, disse a arquiteta.

Magui Peredo e seu sócio, Salvador Macias, diretores do Estudio Macías Peredo de Guadalajara, no México, reinterpretaram de maneira elegante a tradição do edifício mexicano de paredes espessas e pátios para seu González Luna Building de uso misto.

“As paredes são um aspecto permanente da arquitetura mexicana em geral, e particularmente em nossa obra”, explicou Magui. “Luis Barragan, que era daqui, usava as paredes para criticar a finura do vidro, sua impermanência. Para nós, a questão, foi como expressar o muro em um edifício vertical”. Sua solução foi perfurar a estrutura perimetral de concreto exposto com recortes que conferem uma profundidade visual e criam terraços privados para os apartamentos.

Criar um contexto não foi problema para Huang Wenjing e Li Hu, diretores da Open Architecture de Pequim, com seu projeto Tank Shanghai. Ele volta a propor os tanques de armazenamento de combustível de um antigo aeroporto militar em um museu de arte e centro cultural no florescente bairro artístico de West Bund. Em um tanque há um museu tradicional – enquanto restaurante, boate e espaço para eventos se encontram em tanques individuais. O projeto de 10 mil metros quadrados inclui um tanque com um vão circular central ao ar livre para obras de arte em grande escala.

Praticamente mais do que qualquer outro, Zaha Hadid soltou as amarras da arquitetura contemporânea. A primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker (em 2004) morreu no ápice da sua força, em 2016. Dois de seus últimos projetos coroarão importantes construções no final deste ano e ampliarão seu legado.

O primeiro, o 1000 Museum Tower, é um condomínio de 84 mil metros quadrados em Miami, com um sistema estrutural exposto que sobe pelo edifício de 62 andares como as gavinhas de um pé de feijão gigante, pertencente a um outro mundo.

A sede da Bee’ah Corporation de Zaha, de 6.500 metros quadrados, uma empresa de consultoria ambiental nos Emirados Árabes Unidos, apresenta uma composição de 20 metros de altura, como dunas que parecem ter sido varridas pelo vento do deserto até aquele lugar.

Quando Zaha Hadid inaugurou seu escritório, em 1979, alguns indagaram o que seria mais radical: se o seu trabalho, ou a ideia de que uma mulher pudesse dirigir uma atividade à frente de uma equipe de mais de 400 pessoas. Hoje, somente o trabalho continua surpreendendo.

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