Notibras

Muros da discórdia viram tapume no sonho de Miranda

Marta Nobre

Os novos muros, e demais obras, em fase de execução no complexo da Papuda, em Brasília, estão no centro da discórdia. De um lado, há a empresa TIISA, que integra o consórcio responsável por tocar o empreendimento; de outro, o secretário de Justiça Arthur Bernardes Miranda, que é tudo, embora não queira ser politicamente correto com apenas seu HB. É uma tentativa de puro marketing regado a malte. Sequer no que é oficial o Miranda aparece.

Essa omissão de Miranda, asseguram pessoas ouvidas por Notibras, não tem nada de espontâneo. Há artificialismo, com elementos ensaiados, premeditados. Sem o Miranda, HB, filiado ao PSD, sai do colete de Rogério Rosso para brigar pela cadeira do chefe Rodrigo Rollemberg. Se Rosso teme uma majoritária, arranja um boi de piranha. E o governador já sabe dessas segundas intenções.

Rollemberg está de olho em seu controvertido secretário. Dentre os constrangimentos sofridos pelo Governo de Brasília, há a prática de nepotismo, com o patriarca Napoleão ocupando um cargo comissionado no gabinete de Rosso. Vem a ser o mesmo denunciado no esquema do Mané Garrincha. A moeda de troco de uma boquinha para o pai foi um emprego de olho grande para Karina Rosso, esposa do líder do PSD, quando à frente da secretaria de Economia e Desenvolvimento Sustentável.

Mas Miranda, que força, copiando velhas raposas, um AB despropositado, tem mais coisas para explicar. Como o fato de Aline, a quem promete ser primeira-dama num futuro patético e hipotético, ter conseguido, em circunstâncias nebulosas, um apartamento no Jardins Mangueiral, programa de assentamento para a população de baixa renda.

A assessoria de Miranda, na época, soltou uma justificativa pouco plausível. “A renda da esposa correspondia com o edital do programa. Somente a renda dela foi utilizada no cadastramento porque, no período em que ela fez a inscrição, era solteira. Também no momento da habilitação, pesou o fato de que Arthur Bernardes estava sem renda, porque os dois estavam oficialmente casados desde 2011”.

Essa versão, contudo, não convenceu o Ministério Público, que apura as condições da aquisição. Como Miranda tem foro privilegiado, as investigações seguem sob sigilo. Outro abacaxi para HB descascar e que também é alvo do MP -, é o suposto fato de ele estar advogando. Essa possibilidade vai de encontro com a legislação, uma vez que, respeitado o Estatuto da OAB, secretário de Estado está impedido de exercer a advocacia.

A decisão de Miranda de suspender, sem motivação aparente, os pagamentos da empresa responsável pelas obras de ampliação da Papuda, atraiu novos olhares do MP sobre o secretário, que poderá ter que explicar muito mais coisas que vão além dos muros da discórdia. Uma ordem nesse sentido, vinda de cima, é pouco provável. Mesmo porque, 80% do dinheiro é do Fundo Penitenciário. E o Planalto, e não o Buriti, não estaria propenso a erguer tapumes para esconder o que há realmente por trás do projeto de HB.

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