Entre tijolos de medo e argamassa de dor,
Levantam-se muros, sem espaço para o amor,
De concreto a concreto, tão altos a nos cercar,
Dividem sonhos, impedem vozes de gritar;
De um lado, a fome, do outro, o temor,
Refugiados sem lar, sem pão, sem calor,
Crianças amedrontadas, com passos inseguros,
Carregando histórias, de sonhos partidos pelos muros;
O preconceito ergue barreiras, silencia a razão,
Transforma a esperança em dura solidão,
“Estrangeiro”, “diferente”, palavras de destruição,
Barreiras que separam, fronteiras que desunem irmãos;
E assim se constrói, com cimento e desdém,
Um mundo fragmentado, onde ninguém é ninguém,
Trincheiras sem rostos, só números contabilizados,
De pessoas que só querem viver, sem medo dos estados;
Do lado de cá, o privilégio a nos cegar,
Do lado de lá, o desespero a nos questionar:
Onde está a humanidade, que tanto dizemos ter,
Se fechamos os olhos, ao irmão que só quer viver?
Muros ideológicos, tão densos quanto os de pedra,
Negam a empatia, transformam a vida em guerra,
“Eles não são como nós”, eis o grito corrupto,
Que justifica a indiferença e a fronteira sob muros.