Ato Bem Viver
Mutirão solidário leva comida a quem não tem
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emPara manter a renda e a produção de agricultores familiares e ajudar a quem está sem recursos para sobreviver neste momento de pandemia de covi-19, um grupo de voluntários com atuação em 16 estados organizou uma rede de solidariedade para unir campo, floresta e cidade, levando alimentos saudáveis a quem precisa.
Além de alimentos agroecológicos, produzidos sem agrotóxicos e de forma integrada com a floresta, o Mutirão do Bem Viver em Resposta à Pandemia distribui também alimentos não perecíveis e de higiene pessoal. Entre as comunidades beneficiadas estão assentamentos rurais, favelas, ocupações urbanas, territórios tradicionais quilombolas e indígenas e população em situação de rua.
Desde abril, já foram doadas quase 4 mil cestas, em 78 comunidades nos estados do Amazonas, Piauí, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.
Arrecadação coletiva
O trabalho é mantido por voluntários e financiado por uma arrecadação coletiva pela internet, lançada no final de março, além de doações da sociedade civil. Segundo a incentivadora do Mutirão no Distrito Federal, Nádia Nádila, uma das idealizadoras da iniciativa, a ideia partiu das comunidades agroecológicas, organizadas pelo grupo desde o início do ano passado em oito estados, que une o pequeno produtor rural ao consumidor dos alimentos nas cidades, sem intermediários.
“A gente trabalha a perspectiva de luta no campo, de fornecer alimentos sem veneno para quem quer consumir esse tipo de alimento e esse trabalho nos territórios. A partir disso, como a gente conseguiria fortalecer quem está nas favelas nas periferias, nos territórios indígenas, nos territórios quilombolas, com essa cesta agroecológica, ao mesmo tempo em que a gente fortalece quem está no campo produzindo alimento e não tinha condições de escoar a produção por conta do isolamento social”.
De acordo com ela, logo no começo da pandemia foram lançados os formulários para cadastro dos agricultores agroecológicos, a vaquinha para arrecadar recursos para comprar esses produtos e também o de voluntários. Os territórios também são cadastrados por um formulário e, segundo Nádia, eles são atendidos de acordo com a capacidade de organização da rede, que precisa unir o produtor rural com uma pessoa de referência na comunidade e os voluntários da logística em cada local.
“A gente teve uma resposta boa, até pela dificuldade que muita gente estava perdendo a produção e muitos estão numa situação de precarização, para se manter no campo. Tivemos uma boa resposta na chamada para os agricultores. De voluntários temos mais de 700, em grupos como logística, arrecadação, comunicação”.
Agricultura familiar
O agricultor familiar Fábio Ramos Nunes, de Nova União, na região metropolitana de Belo Horizonte, produz alface, almeirão, mandioca, mel, própolis e cana de açúcar, entre outros. Ele explica que logo no início da pandemia, a comercialização da produção ficou paralisada, pois ele fornecia alimentos para abastecer os restaurantes populares da prefeitura de Belo Horizonte, que foram fechados. Quando viu o chamado para o Mutirão do Bem Viver nas redes sociais, aproveitou a oportunidade.
“Essa parceria com o mutirão veio quando a gente estava ainda no stand by (na espera), meio parado com a comercialização. Então foi o processo de retomada nossa com a comercialização. E atender pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade é muito importante para nós, porque liga um pouco à nossa tarefa enquanto assentado da reforma agrária de produzir alimentos e fazer com que eles cheguem a cidade a um preço justo, que dê para as famílias que produzem sobreviver dessa produção”.
Quanto à produção na pandemia, Fábio diz que os cuidados foram redobrados e seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde.
“Agora temos cuidado redobrado com as boas práticas de produção. Nós trabalhamos muito em mutirão, mas estamos evitando aglomeração, sempre mantendo distância de dois ou três metros, cada um usa a sua ferramenta de trabalho, no manuseio dos alimentos temos uma rigidez ainda maior na higienização, principalmente nos produtos que a gente industrializa ou processa minimante”.
Continuidade
O projeto pretende ter continuidade quando a pandemia passar. Uma das idealizadoras do Mutirão no Distrito Federal, Nádia Nádila, explica que, mais do que uma assistência emergencial nesse momento de dificuldade, o projeto pretende fortalecer a relação das pessoas com o território em que vivem, com ações de longo prazo e a construção de hortas comunitárias e cozinhas coletivas em alguns desses locais atendidos, para consolidar uma rede permanente de solidariedade.
“Ainda estamos em alta da curva do coronavírus, então não dá para fazer as cozinhas e hortas ainda. Estamos trabalhando na caracterização desses territórios que a gente visitou, fazendo o levantamento de como ele é, quantas pessoas vivem lá, a viabilidade, quais as demandas, envolvimento da comunidade, o que ela quer. Estamos ali para fortalecer o território, mas o protagonismo da ação é de quem está lá.”