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Podres poderes

Na Casa dos horrores, homens das neves só não servem ao povo

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Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto de Arquivo

No Brasil de hoje, pague para entrar e reze para sair. Enquanto suas excelências cantam, encantam e entortam o garfo de metade mais um dos brasileiros, a natureza cobra caro pelo pouco caso. E daí? Azar de quem ainda acredita nos mortos vivos que habitam os corredores e plenários das casas de leis espalhadas pelo país. Deitados em berço esplêndido e sob lençóis macios, os safardanas dispõem de três dos maiores poderes já liberados por Deus para bom uso dos homens: a caneta, o cofre e a bala.

Os três são trágicos nas mãos de quem não entende do riscado ou daqueles que só querem se beneficiar. Vejo o da caneta como o mais nocivo, na medida em que a pena que cria leis costuma ser a mesma que as desfazem quando seu usuário se torna vítima de seu próprio veneno. Nada, porém, é tão desastroso como a garganta profunda dos homens que, por serem públicos, deveriam ter um mínimo de neurônios para nos representar. Comprovadamente, a maioria não tem. Os que têm, usam apenas os podres para garantir o máximo de poderes. Queria ter feito como Caetano Veloso que gritou setecentas mil vezes contra os ridículos tiranos.

“Por mais zil anos”, o palco do circo dos homens de podres poderes será mais iluminado do que foi recentemente a “festa cívico-eleitoral” de cerca de 156 milhões de eleitores. Enquanto nós, paisanos, nos oferecemos à forca, os capatazes sugam nosso sangue que um dia foi vermelho de alegria. Para os feitores, melhor seria que ele parasse de jorrar. São os que sobem à tribuna para anunciar o poder da cura. Outros juram ter a solução imediata para todos os males do Brasil. Mais fanatizados, alguns prometem apresentar uma PEC para reduzir as 50 posições do Kamasutra para, no máximo, dez.

Preocupados com a postura sexual dos brasileiros, os CEOs da caixa prego chamada Congresso Nacional sugerem que fiquemos somente com os posicionamentos denominados bicicleta, cara a cara, plugue, cachorro, conchinha, cascata, cadeira quente, caminho para o céu, trono e David Copperfield. Não me lembro das vantagens emocionais de todos, mas guardo para mim a efervescência dos fervores dos mais usuais. Com alguma preparação, é um tico-tico lá, um teco-teco ali e um taco-taco no Abre Alas de Chiquinha Gonzaga.

Enfim, nossos inservíveis e obsoletos homens das neves são capazes de tudo, menos de servir ao povo que os elegeu. Em plena estação das flores, o Brasil ainda é um amontoado de cinzas. E eles? Quando propositada e caprichosamente não premeditam o fogo, ajudam a assoprar o vento que espalha os focos país afora. É o atraso na sua mais pura essência. Um dia eles passarão. Afinal, está escrito no Decálogo de Abraham Lincoln, 16º. presidente dos Estados Unidos: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

Não tenho feitos para a história. No entanto, faço da história meu modus operandi. Por exemplo, protesto silenciosamente, mas não me recolho ao silêncio, pois, assim o fazendo, estaria me transformando em um covarde. Mais uma vez recorrendo aos filósofos, temo pela repetição da negacionista e terraplanista história que aparentemente enterramos. De acordo com os ensinamentos de Karl Marx, a primeira veio na forma de tragédia. Caso se repita, a segunda será uma farsa. Sobre a Casa dos horrores, o que posso dizer é que, enquanto os demônios continuam espalhando o caos, mudando leis incômodas e assistindo de camarote o Brasil pegar fogo, o inferno está vazio.

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