José Escarlate
Perambulando pelos sofás do grande mezanino do terceiro andar do Palácio do Planalto, pouco depois das duas da tarde, vi quando passaram o Secretário de Imprensa, Humberto Barreto, o coronel Adauto Barreto, seu primo, e a filha do presidente, Amália Lucy.
Adauto estava cogitado para o cargo de governador do Ceará e Humberto trabalhava para isso. Sentiu um cheiro de traição de alguns setores contra o primo e, visivelmente irritado, desabafou: “Veja bem, Adauto – dizia ele – se o nome apresentado for melhor que o seu, tudo bem. Se não for, saio daqui agora, contigo”.
O martelo seria batido em instantes pelo presidente Ernesto Geisel, que chegava ao seu gabinete. Geisel aguardava o relatório do SNI. O coronel Cesar Cals havia retirado o seu apoio ao nome de Adauto, passando a apoiar Luciano Salgado, general da ativa. Salgado foi representante do Exército no Conselho Nacional de Petróleo e era o chefe do gabinete do governador César Cals.
As portas do gabinete de Geisel se fecharam e, minutos depois de uma reunião tensa, Humberto saiu risonho anunciando o nome do primo como sucessor de César Cals. A historinha foi capa do Globo, no dia seguinte.