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Na PM, cavalaria está sempre a postos para o que der e vier

Foto: André Borges/Agência Brasília

Os mais de 200 cavalos que trabalham nos Regimentos de Polícia Montada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) são parte estratégica na segurança pública da cidade. Em parceria com os policiais, os animais atuam tanto no policiamento rotineiro quanto em operações de choque.

No 1º Regimento de Polícia Montada, que prepara equipes para patrulhar as regiões administrativas, o dia começa com a lavagem dos animais. Depois, eles recebem as selas. Todo o processo é feito pelos policiais militares.

Há três anos, essa é parte da rotina de Xaxado e do soldado Wanderson da Silva Teixeira, de 34 anos. Juntos, eles patrulharam diferentes regiões do DF, como o Sudoeste e o Setor Habitacional Sol Nascente, em Ceilândia.

A escala é a mesma para oficiais e cavalos: 12 horas de trabalho e 36 horas de descanso. Se o local de atuação fica a mais de 6 quilômetros, os equinos são transportados por caminhão ou carreta. Senão, os policiais já saem montados do regimento.

A cavalaria oferece vantagens para policiamento e controle de multidão, já que consegue trafegar com facilidade em áreas que pessoas e carros têm dificuldades, como becos, ruas estreitas e terrenos de lama.

Para isso, a corporação foca em condicionamento físico. “O cavalo de policiamento é um atleta. Ele deve ter nutrição balanceada e treinos determinados”, explica Teixeira. Em dia de folga, eles são soltos em espaços livres do regimento para que possam gastar energia.

A principal comida é uma ração de proteína e carboidrato. Apesar de os animais serem herbívoros, a proteína animal é adicionada na dieta para dar a força necessária à carga que eles devem sustentar no trabalho.

Seis quilos de ração são servidos diariamente a cada um. A porção é a mesma para os que estão de folga, aposentados, em serviço e em treinamento. Além disso, eles comem capim e alfafa livremente.

Ao fim do expediente, as selas são removidas para que eles recebam um banho de ducha e sejam escovados. Os próprios policiais cuidam de todos os detalhes — desde a higiene dos bichos ao retorno para as baias.

Teixeira, por exemplo, visita Xaxado até nos fins de semana. “Fico preocupado e vou olhar se tem alguma coisa no espaço mole entre a ferradura e a pata, porque pode machucar. A única coisa que não fazemos é alimentar, porque eles têm horários e quantidades específicos.”

Enquanto lavam e cuidam dos animais, os policiais verificam se sofreram algum ferimento e se precisam ser levados para o Centro de Medicina Veterinária da Polícia Militar do DF.

Os atendimentos no centro veterinário são separados de acordo com os tratamentos. Feridas menores são cuidadas pela equipe auxiliar, que acompanha as melhorias diariamente e renova os curativos.

Nos casos mais sérios, o centro cirúrgico é acionado. As intervenções mais comuns são por cólicas intestinais e envolvem cirurgias consideradas invasivas, pois expõem intestinos a possíveis infecções.

“É como o apêndice no humano. Se não cuidar logo, pode levar à morte”, explica o major Renato Fonseca Ferreira II, chefe da unidade.

Se precisarem de cirurgia, os cavalos são levados para uma câmara escura e com vedação acústica — esses cuidados são para evitar estímulos sensoriais que os assustem.

As paredes e o chão são amortecidos para que eles não se machuquem durante o processo de anestesia geral. Depois, uma grua os levanta pelas patas e os leva para uma mesa de cirurgia especial.

Cerca de 30 cavalos passam por dia pelo Centro de Medicina Veterinária da PMDF para trocas de bandagens e de ferraduras. Para os processos cirúrgicos, a média é de uma intervenção por mês.

Depois de aposentados, por volta dos 20 anos, os animais são soltos no primeiro regimento e recebem cuidados médicos. Não participam mais de treinamentos e têm total liberdade para circular no espaço.

Os equinos da Polícia Montada do DF têm funções diferentes. “Alguns são usados em grupos de policiamento ordinário e outros para operações de choque”, diferencia o comandante do Comando de Policiamento Montado da PMDF, coronel Fernando d’Austria e Caravellas Filho.

O 1º Regimento de Polícia Montada, no Riacho Fundo I, reúne a maior parte dos animais e atua no patrulhamento de regiões administrativas.

No Parque da Cidade, próximo ao Pavilhão de Exposições, fica o 2º Regimento de Polícia Montada, responsável por policiar a área do parque urbano e de espaços do centro do Plano Piloto, além das operações de choque montado.

Todos os cavalos são da raça chamada brasileiro de hipismo, criada no País por meio da mistura de espécies europeias. A escolha é porque eles são dóceis e fortes para aguentar as situações do policiamento, o que contribui para o controle da cavalaria.

Segundo ele, o comando atendeu, em 2018, 935 ocorrências. Entre as ações e os resultados estão:

776 pessoas detidas
499 detenções por uso e porte de drogas
433 notificações de trânsito
198 mandados de prisão
27 operações em ocupação irregular

O treinamento básico é o mesmo nos dois regimentos. No entanto, ele é mais regular no grupamento de choque montado. “Porque eles agem diretamente em distúrbios, com bombas, gás, bandeiras, multidão”, detalha o comandante.

No choque há ainda treinos para dessensibilizar os equinos de certos estímulos e para revisar movimentos importantes em casos de dispersão.

Segundo o capitão Elias Ferreira, membro do destacamento desde 2010, o primeiro trabalha com sons de explosões, fumaça e objetos que podem causar medo.

O segundo consiste em acostumá-los às formações. Eles ficam em linhas e colunas de acordo com cada situação que possam enfrentar. De acordo com o capitão, os mais novos respeitam e seguem os mais velhos, o que é útil no treinamento.

Os equinos da corporação são adquiridos por licitação, com base na necessidade. Eles já chegam domados, com idades de 4 a 7 anos, prontos para o adestramento. O sexo não influencia na escolha.

Os primeiros foram comprados pela Polícia Militar do DF na década de 1980. Aqueles que nascem no regimento vivem soltos até completarem 3 anos e 6 meses — momento em que é iniciada a domesticação.

Essa fase é quando eles são acostumados com o convívio humano. É o caso de Aurora. A égua fica livre para passear, e os oficiais brincam com ela para prepará-la para aceitar pessoas na rotina.

Passeando entre as baias, a potra encontra o major Ferreira II. O veterinário faz carinho nela. “Isso já é a domesticação. Ela aprende a lidar com o contato humano e fica dócil.”

Depois de domesticados, os potros passam pelo treinamento básico. Baseado nas performances, são direcionados para o serviço mais adequado.

Em 23 de junho deste ano, o Comando de Policiamento Montado do DF completou 36 anos. Ele foi idealizado pelo coronel Francisco Leite Rabelo Neto, que dá nome ao primeiro regimento.

O coronel Egêo Correa de Oliveira, que criou o núcleo de policiamento montado como parte do 2º Batalhão de Polícia Militar, é homenageado no nome do segundo regimento.

Atualmente, os dois locais têm cerca de 300 policiais e também desenvolvem atividades de hipismo e equoterapia.

Como têm preparação de alto nível, os equinos também participam de competições, além de atuar no policiamento da cidade. Já os destacados para a equoterapia — por serem mais dóceis e não apresentarem riscos aos pacientes — trabalham exclusivamente nesse tipo de serviço.

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