Dito pelo não dito
Nada se cria, tudo se copia. Ascensão e queda na EBN
Publicado
emJosé Escarlate
Um dia, Zarur me levou ao gabinete de Getúlio, a quem eu já conhecia, que me fez o convite para ocupar a superintendência da empresa. Fiquei assustado, mas lisonjeado. Afinal, cheguei à Agência Nacional em 1966, como repórter iniciante. Fui subindo gradativamente, sem pistolão, à custa de muito trabalho.
Através de concurso público, promovido pelo Dasp, fui nomeado Técnico em Comunicação Social, ainda no governo Médici, até alcançar a posição de redator especial nível 2, o mais alto. Ainda tentei recuar, mas o Getúlio insistiu no convite. Então, oficialmente, ele comunicou ao Zarur que eu seria o seu substituto.
A notícia vazou pelos corredores da empresa. No final do dia, a surpresa. O fato não agradou a uma certa Norma, diretora de Administração, com grande influência sobre o Getúlio. Ela disse a ele que eu era um homem de personalidade muito forte e que iria, fatalmente, atrapalhar o seu trabalho.
Rapidamente, Getúlio desfez o convite e, na mesma hora, o Zarur me convidou para ir com ele para o Planalto. Aceitei. Então, com o nome aprovado pela Norma, Eduardo Mamcaz, convidado, assumiu a superintendência da EBN.
Mamcasz era da Folha de S. Paulo, na gestão de Geisel e meu companheiro na cobertura do Palácio do Planalto, no governo Figueiredo, pela EBN, levado pelo Cornélio Franco. Assumindo, introduziu mudanças no jornalismo. Entusiasmado com os novos tempos, decidiu criar grandes entrevistas, com a série “Repórter Especial”.
“As entrevistas eram divulgadas dentro das normas de praxe”, disse Mamcasz, justificando. Dentro desse projeto, a EBN já havia entrevistado os ministros Aluízio Alves e Antônio Carlos Magalhães, mas só o brigadeiro Camarinha se utilizou da agência oficial para atacar o governo.