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Namba, Brito, o Sendero e a indicação para a Veja

José Escarlate

Orlando Brito é um artista, não só da imagem. Com aquela cara inocente de coroinha de igreja, tramava as maiores gozações.

Nas viagens aos exterior, aparecia no meio dos novatos com uma bela caneta. Ao ser indagada a origem, dizia cinicamente que um diplomata do Itamaraty estava distribuindo para a imprensa.

Os barbudinhos reclamavam.

Na viagem de Geisel à Colômbia, ele deu um trote no excelente Carlos Namba, fotógrafo da Veja, um dos seus grandes rivais no trato com a imagem.

Ardilosamente, fez com que Namba soubesse que ele havia conseguido um encontro com guerrilheiros peruanos do famoso Sendero Luminoso. O encontro seria numa lugarejo próximo da fonteira, distante quase 200 quilômetros de Bogotá. Tinha até contratado um carro.

Namba soube e ficou ouriçado. Ligou para a Veja em São Paulo e conseguiu autorização para a despesa. Deixou o hotel na calada da noite e partiu para uma localidade pobre, distante e vazia. Consultou o mapa, parou, rodou, indagou.

A resposta era sempre negativa. Puto da vida, viu que caíra no golpe do Brito. Sem dormir, cansado e sujo de poeira da estrada de terra, regressou ao hotel, onde chegou esbaforido, na hora do café da manhã.

No refeitório, partiu decidido para cima do do Brito, que se fez de desentendido. A turma do deixa disso entrou em campo e serenou o chinês.

Tempos depois resolveu se aposentar, depois de uma linda e vitoriosa carreira.

Carlos Namba deu adeus ao jornalismo.Tornou-se restaurateur, no Setor Comercial Sul, perto dos jornais. Para ocupar o seu lugar na Veja indicou justamente o Orlando Brito, a quem admirava.

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