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A ilha perdida

Namorico e enjoo marcam dias de férias de Garibaldo

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Irene Araújo

Garibaldo viveu a infância nos longínquos anos 1970 e, como a garotada da época, viajou através das páginas do livro “A ilha perdida”, de Maria José Dupré. Da história, pouco se lembrava, a não ser que, como o próprio título indica, ambientava-se numa ilha. Mesmo assim, aquilo ficou no seu subconsciente, até que, por um desses acasos da vida, o agora homem viu-se isolado em uma pequena faixa de terra rodeada de mar.

As circunstâncias que o levaram até aquele local não são relevantes. Mesmo assim, vale a pena contá-las. Pois bem, lá estava o Garibaldo com seus pouco mais de 50 anos, curtindo suas férias mais que merecidas. É que o gajo, para quem não sabe, era funcionário de um banco particular e, por conta disso, trabalhava muito além do que lhe pagavam.

Ele havia dividido o pagamento da viagem em não sei quantas parcelas, mas isso não importava. Ele queria porque queria se ver livre, nem que por uma mísera semana, daquele turbilhão de tarefas sem fim. E foi o que fez. Viajou para o litoral baiano, mais precisamente para Belmonte.

Solteiro depois de três casamentos fracassados, Garibaldo acabou se engraçando por uma nativa logo nos primeiros dias. Enamoraram-se e, após juras de amor eterno, resolveram fazer um passeio de barco.

O dia estava propício, nada de nuvens no céu. Sorridentes, foram de mãos dadas até o cais, onde contrataram os serviços de um pescador, que resolveu dar folga para os peixes naquela semana. Não tardou, lá estavam os três naquele mar esplendidamente azul.

Tudo estava lindo, até que Garibaldo, sentindo-se enjoado, não conseguiu conter a vontade de vomitar. Começo de namoro, não era de bom tom fazê-lo na frente da amada. Por isso, pediu licença e foi resolver seu pequeno problema na popa do barco.

Vomitou os bofes e mais um tanto. Aliviado, limpou a gosma com as costas da mão. Dobrou o corpo para pegar um pouco da água do mar para terminar o serviço quando, de repente, perdeu o equilíbrio e lá foi o Garibaldo para dentro daquela imensidão azul.

Quando a amada e o pescador se deram conta da falta do Garibaldo, este já havia sido carregado pela correnteza. Por sorte, os tubarões deveriam estar de dieta naquele dia, pois o homem foi parar na tal ilha, onde agora ele se encontrava. Sozinho, é verdade, mas relativamente bem, graças aos ensinamentos que recebeu nos tempos de escoteiro.

Passou a primeira noite ao pé de uma fogueira, que fez as vezes de aquecê-lo, mesmo que de modo não tão agradável como se estivesse nos braços da amada. Acabou adormecendo sem se dar conta, até que, logo na manhã seguinte, foi despertado pelo som das ondas da praia logo ali. Levou alguns míseros segundos para se dar conta do que lhe havia acontecido.

Prático como ele só, logo tratou de arrumar alguma coisa para encher o bucho. Depois de alguns crustáceos, se fez por satisfeito. E foi assim por quase três dias completos, quando, finalmente, foi resgatado pelo corpo de bombeiros, que já o procurava desde seu sumiço.

O homem voltou para casa dois dias após. As férias haviam acabado. Teve que encarar a rotina, a mesma rotina de clientes atrás de clientes. Diante de um senhor que lhe enchia com perguntas sobre o melhor tipo de aplicação da parca aposentadoria, eis que Garibaldo, alheio a tudo aquilo, só pensava naquela ilha perdida.

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