Aloísio, meu irmão mais novo, é do tipo que se acha o último biscoito do pacote. Mamãe tem lá sua parcela de culpa, já que, até seu último suspiro, enalteceu as qualidades, todas ausentes, do primogênito.
— Parece um príncipe!
— Mamãe, o Aloísio tá mais pra sapo.
— Ah, Rosana, você sempre de implicância com seu irmão.
— Daqui a pouco, a senhora vai querer falar que ele é um novo Einstein.
— Te peguei! Lembra quando o seu irmão ganhou uma estrelinha da professora de ciências?
— Mamãe, isso foi no jardim de infância, e todos os alunos ganharam por plantar feijão em algodão.
Que saudade da minha velha, mesmo que ela me irritasse tanto com tamanha bajulação. Mas não entenda mal, pois gosto muito do traste do Aloísio. Um egoísta, que, no entanto, consegue, de vez em quando, desviar os olhos do próprio umbigo e escutar minhas lamúrias, que são deveras extensas, ainda mais depois que me separei.
— Que cretino!
— Totalmente, Aloísio.
— Como é que aquele calhorda foi fazer isso com você?
— Até agora não entendo, meu irmãozinho querido.
— Cafajeste!
Tais palavras não conseguiram apaziguar por completo a dor dilacerante que senti quando Marco Antônio saiu de casa para viver uma vida, digamos, mundana. Não que eu também não tivesse meus flertes, ainda mais depois de quase dez anos de casamento. Entretanto, jamais permiti que uma pulada de cerca fosse motivo para terminar um relacionamento que tinha tudo para dar certo por, vá lá, mais uma década.
Não sei se meu ex-marido soube dos beijos furtivos que dei, já que discrição sempre fez parte da minha conduta. Aloísio, por sua vez, puxou o lado da família de mamãe, cujo irmão, tio Cláudio, é o mais notório representante. O sujeito, além de cinco casamentos nas costas, sem contar os inúmeros casos, espalhou sua semente pelos quatro ventos. Não à toa, sempre tomei o maior cuidado para não topar com um primo na balada.
Minha mãe, talvez cansada de decorar nome das mulheres do irmão, certa vez, chegou a desabafar comigo.
— Ah, Rosana, tô completamente perdida com essas namoradas do seu tio.
— Por quê?
— Num sei quem é Carla, Judite ou Márcia. O Cláudio arrumou até uma Creuza.
— Mamãe, o tio Cláudio não fica constrangido?
— Fica nada, menina! Por pior que seja a vergonha, o maior constrangimento do seu tio sempre será o próximo.
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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