A defesa de um apoio incondicional do partido às aspirações do prefeito do Recife, João Campos (PSB) de suceder em 2026 a governadora Raquel Lyra (PSDB), feita pelo Diretório Municipal com o apoio da senadora Teresa Leitão, está levando a um racha com o Diretório Estadual do PT, cujos integrantes veem nesse apoio uma tentativa de transformar o PT pernambucano em sublegenda do PSB.
O clima esquentou após uma entrevista do presidente do Diretório do Recife, Cirilo Mota, que afirmou ao Jornal do Commercio não ter dúvidas de que o partido continuará caminhando ao lado de João Campos para as eleições de 2026, por uma questão nacional.
“Olha, uma coisa que eu posso prever, é que o PT continua na Frente Popular. João Campos vai ser presidente nacional do PSB, o vice hoje de Lula é Alckmin do PSB, Qual a dúvida que se resta pra dizer que a gente está na frente popular de Pernambuco junto com o PSB? Nenhuma”, afirmou.
A reação do senador Humberto Costa, principal liderança do partido em Pernambuco, foi imediata: “Ninguém, nem eu como senador, nem o presidente do diretório municipal do Recife, tem essa autoridade para dizer qual vai ser a posição do PT. […] Quem decide a posição estadual do PT não é o diretório municipal de Recife ou de qualquer outro município, mas é o diretório estadual do PT”, disse.
“Nós temos em Pernambuco 184 municípios, então nós não podemos nos pautar pela prefeitura do Recife numa relação política de debate em torno dos problemas de Pernambuco”, completou o presidente do PT pernambucano, deputado estadual Doriel Barros, para quem o partido não pode se pautar pelo Recife para debater os interesses e os problemas do estado.
As críticas de Costa e de Barros também tinham endereço certo, a senadora Teresa Leitão. Em entrevista à Rádio Folha, ela reafirmou oposição à Raquel Lyra, mas ressalvou que essa responsabilidade cabe à bancada do partido na Assembleia Legislativa. “Quem deve fazer oposição a Raquel não sou eu no Senado Federal, mas o PT na Assembleia Legislativa”, disse.
Teresa Leitão afirmou ainda que João Campos seria candidato do PT, se as eleições fossem hoje. Para a senadora, mesmo se Raquel Lyra estivesse em um partido de base do PT, o PSB seria priorizado, por ser o partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.
O problema é que a senadora se esqueceu de combinar com o lateral, como na história do futebol, e no caso a bancada de deputados estaduais, que ela citou. Enquanto ela mantém oposição ao governo do estado e se agarra na candidatura de João Campos para derrotar Raquel Lyra em 2026, os deputados estaduais já estão remando em sentido contrário, na direção da governadora.
Ex-prefeito do Recife e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa, o deputado João Paulo lidera uma corrente de parlamentares estaduais que pretendem aderir à governadora Raquel Lyra. E argumentos não faltam para isso, como o distanciamento que o prefeito João Campos impôs ao partido, alijado de sua candidatura e nomeando para a sua administração petistas sem anuência da direção do partido, à prática de ações e defesa do governo Lula que a governadora tem exercitado em Pernambuco.
De acordo com João Paulo, o PT já não se encontra em posição prática de oposição à governadora, não restando razão para uma manutenção da posição estabelecida para a bancada.
“Há uma tendência do PT mudar a posição, sair da oposição, que não está fazendo, nem o governo Lula, nem os ministros, nem os dois senadores, nem o deputado federal, e muito menos a bancada estadual. Aquela decisão de oposição foi em uma conjuntura, terminada a eleição, que foi bastante acirrada. O próprio ministro Rui Costa já disse que ela (a governadora)era da base, então no mínimo, o partido deveria rever a condição de oposição”, disse, em entrevista ao Jornal do Commercio.
A posição de João Paulo também é compartilhada por Doriel Barros. Em entrevista ao mesmo jornal, ele afirmou que a posição inicial de oposição, estabelecida pelo PT, já não reflete a relação atual entre a governadora e o governo federal.