Estou doente com as palavras!
Elas estão em todo o canto.
Na mente, na boca, nos olhos!
Me dominam os gestos,
grudam nos meus sentimentos
com a força de mil mãos
os tornando transparentes…
Eu sofro, doutor,
de excesso de palavras.
E elas correm contentes
capturam minhas ideias,
e alimentam-se dos meus sonhos.
Riem de mim, doutor,
enquanto choro impotente!
O que faço, doutor?
Me curo na prosa?
Saro com poesia?
Aprisiono em crônicas as mais frequentes?
Conto as que escrevo todos os dias?
Ou as despejo num romance?
Quem sabe num livro de fantasia?
No auge dos meus surtos
se esparramam sem cuidado
em qualquer papel,
dançam nas telas,
brilham no escuro,
me traduzem sem dó,
me despem e me seduzem.
O que faço, doutor,
com essa doença de palavras?
Dou saltos de alegria
ou me entristeço com a orgia
que se forma em minha alma?
São as palavras que calo
as que me deixam mais doente…
Tenho cura, doutor?