Palhaçada caseira
Nave espacial de Musk não terá Xandão como passageiro
Publicado
emPara quem já acreditou na invasão de Brasília por extraterrestres dispostos a abduzir Luiz Inácio da Presidência da República, nada como um novo voo imaginário no foguete sem rabo “Y”, condutor da nave diabólica “Z”, ambos do Senhor “X”. Oportuna e estimulada pela turma que já acorda com o taxímetro ligado contra Luiz Inácio e seus apoiadores, a briga do lunático bilionário Elon Musk mostrou o lado mais perverso de parte da sociedade e da política brasileira. Nem um pouco preocupados com o Brasil, os que adoram se fantasiar de “patriotas” se associaram aos carniceiros da Câmara dos Deputados e levaram uma insossa e insipiente Comissão de Segurança a aprovar uma moção de louvor ao empresário sul-africano.
Perversos, nocivos ao país e abutres à espera de tudo que possa prejudicar um governo democraticamente eleito, as excelências da tal comissão, todas ligadas ao que há de pior na política nacional, não hesitam em expor o Brasil ao ridículo. Em primeiro lugar, o que esse riquinho do Musk já produziu no e para o Brasil? Em segundo, o que esses deputados de ocasião e sem nenhum princípio público já produziram de útil para a nação, para seu estado e para sua cidade? Desafio qualquer cidadão sério e honrado a me indicar um único projeto de autoria desses carniceiros em favor do povo brasileiro.
É mais fácil perseguir Lula e Alexandre de Moraes, a quem se atribui o crime de aplicar a lei contra as patifarias de um mandatário louco pelo poder eterno. O sonho do imaginário dos bolsonaristas é uma reviravolta no caso do ex-presidente jubilado, cuja liberdade está por um sinal de wi-fi. Apoiar as teses milagrosas do bilionário sul-africano é o mesmo que acender vela para São Toquinho, bater tambor para o morubichona da tribo dos pés grandes e saltar na vara do caboclo Senta a Pua. Ou seja, o que está posto por Alexandre de Moraes é o que será definido pelo Supremo Tribunal. E não adianta mais esperneios espetaculosos dos extremistas, representados no Brasil pelo clã Bolsonaro, por seus seguidores e, agora, pelo engolidor de fogo Elon Musk.
O circo estava montado para mais um espetáculo insosso dos “patriotas” e do chamado “mito da liberdade”. Não é piada. É o acordo de compadres entre o “mito” Jair Bolsonaro e o libertário Elon Musk, firmado logo após ambos experimentarem, em São Paulo, um gole da santíssima Cloroquina. Novamente não contavam com a cabeça brilhante do ministro do STF. A astúcia de Moraes ficou evidente ao empurrar Musk para dentro do inquérito das milícias digitais, hoje mais robusto com as acusações sem provas do empresário maluquete. O resumo da ópera é que Xandão não vai embarcar na nave de Musk.
O ministro Alexandre talvez não seja um santo. No máximo, um anjo querubim, mensageiro da justiça divina e caçador dos discípulos de Lúcifer na Terra, principalmente no Brasil. Em síntese, ele pode não ser santo – certamente não é -, mas, com certeza, está bem distante do caldeirão de enxofre no qual estão atolados os bolsonaristas mais fanáticos, inclusive e sobretudo o cidadão que deu origem ao substantivo. Elon Musk dizer que Moraes tem Lula na coleira é mostrar seu desconhecimento da política nacional. Aliás, nenhuma novidade para quem acha que o Brasil é sinônimo de Jair Messias Bolsonaro, o capitão do circo dos horrores.
A explicação mais crível para a crise existencial de Musk é a derrota da extrema-direita na República que ele imaginou para sempre de bananas. Seria não tivesse Luiz Inácio aparecido para destronar a gestão podre do “mito”. Com mais de 60,3 milhões de votos, Lula devolveu aos porões da caserna o comandante de todos os atentados que a democracia sofreu nos últimos seis anos. Não sei se caberia a Lula, a Moraes, a Barroso, a Arthur Lira ou a Rodrigo Pacheco informar ao dono do “X” que o Brasil não é mais a Casa de Mãe Joana que ele conheceu em 2022, quando se encontrou com seu similar do inferno. Seja quem for, é chegada a hora de acabar com esse novelão Bolsonaro. Deixá-lo sangrando não parece mais a melhor ideia.
A Polícia Federal, o Ministério Público, o Tribunal Superior Eleitoral e o STF estão carregados de provas concretas contra a bolsonarização inconsequente, desrespeitosa e criminosa do país. A necessidade de solução para esse imbróglio é imperativa. E tem de ser feita antes que os serviçais peçonhentos de Bolsonaro no Congresso protocolem pedidos em série de homenagens e mais moções de aplauso e louvor ao bilionário da plataforma de foguetes que não chegam a lugar algum. Se Elon Musk quer aparecer é mais fácil pedir emprestado o coturno sem cadarço do Jair e se pendurar no pau da bandeira fincada na Praça dos Três Poderes. Seria o lugar ideal para uma nova malhação do Judas.
*Mathuzalém Júnior é jornalista desde 1978