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Cadê o Brasil terrivelmente honesto?

Negócios dos Bolsonaro matam promessas do fim da corrupção

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é a mesma coisa. Eu sei que o provérbio está truncado, mas escrevi dessa forma para mostrar que tudo na política é mais do mesmo no Brasil utópico. É a farinhada do mesmo saco, ainda que de mandiocas diferentes. Depois do noticiário de terça-feira (30) e da sua repercussão nacional e internacional, a pergunta que silenciosamente me fiz foi por demais eloquente: E agora, Jair? E agora, seguidores do mito? E agora, antipetistas? A razão das indagações é simples. Jair Bolsonaro fez e faz campanha atacando Luiz Inácio, a quem denomina de ladrão e ex-presidiário, entre outros adjetivos. E só foi eleito em 2018 porque boa parte do eleitorado de Lula decidiu se associar à turba que acreditou nas meias verdades sobre o ex-presidente.

Digo meias verdades porque nem tudo que foi exposto é mentira. Não é fantasiosa a história de que Lula da Silva se utilizou do que não era seu enquanto esteve presidente. Também é verdade que irrigou financeiramente a família, os amigos e a mídia favorável. A mentira é que ele teria ficado impune. Não ficou. Pagou e paga um preço bastante alto. Além da carrada de votos em 2018, perdeu a liberdade, parte da reputação e quase todo brilho como político de vanguarda. Prova disso é a dificuldade de se descolar numericamente do oponente Bolsonaro, candidato que, em outros tempos, não aguentaria sequer uma disputa com um poste de número 13. Mas isso é conversa para outra narrativa.

As perguntas que fiz acima têm por objetivo saber como reagiram os bolsonaristas e os antipetistas à queda do véu de candura da família Bolsonaro. Depois de uma sucessão de escândalos menores – pastores evangélicos mamando nas tetas gordas do MEC e gastos excessivos por meio do Cartão Corporativo -, eis que jornalistas do UOL, com base em informações do Ministério Público, levantaram informações que enterram de vez o discurso de moralidade absoluta do clã. Conforme os dados, a menos que incorporem o espírito do ex-deputado baiano João Alves, não será fácil para o presidente e familiares explicarem como conseguiram negociar 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos, total ou parcialmente, com dinheiro vivo.

A totalização em espécie alcançou R$ 13,5 milhões. Corrigidos pelo IPCA, esses valores chegam hoje a R$ 25,6 milhões. Não tenho ideia do que isso representa, tampouco disponho de documentos para dizer que os negócios são ilegais. Pouco importa. É claro que não há problema algum em comprar imóvel com dinheiro vivo. Entretanto, o que se lê todos os dias nos jornais e sites brasileiros e estrangeiros é que o uso de dinheiro em espécie pode (eu disse pode) indicar operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio. Sei apenas que é muito dinheiro. O que também li na imprensa nacional e mundial é que João Alves de Almeida mentiu ao afirmar, em 1993, na CPI dos Anões do Orçamento, que acumulara fortuna por ser um homem de muita, muita sorte.

Na oportunidade, atribuiu o crescimento absurdo do patrimônio a uma série de mais de 200 bilhetes premiados. Para ilustrar, a referência Anões do Orçamento diz respeito a um grupo de congressistas que, no fim dos anos 80 e início dos anos 90, envolveram-se em fraudes com recursos do Orçamento da União. João Alves, que obviamente virou João de Deus, renunciou, antes que fosse cassado por corrupção. Trazendo os fatos para os dias de hoje, imagino a mesma dificuldade para um parlamentar de apenas dois mandatos (um deles de deputado estadual) explicar a compra de uma mansão de R$ 6 milhões. Todo esse fuzuê narrativo para dizer que criticar e adjetivar é fácil.

Complicado é sustentar as críticas e as adjetivações quando os rabos começam a aparecer. Para o bolsonarismo, até agora Lula é ladrão e Bolsonaro um santo, quase um deus. Aliás, mais uma vez Deus acima de tudo. Faltam pingos nos is. Por enquanto, fico como minha cruel dúvida de três anos e oito meses: Cadê o Brasil terrivelmente honesto que Bolsonaro prometeu em 2018? Eu não consigo sair do Brasil real. No país utópico vivem o pessoal do cercadinho, a turma do quanto pior melhor, o grupelho que adora a democracia norte-americana e europeia e a patota do negacionismo. É esse pessoal que soberbamente estimula o presidente a informar no rádio e na TV que Estados Unidos e Europa morrem de inveja de nossa estabilidade. Aff!!!! Ah, se pelo menos soubessem onde fica o Brasil…

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