Assustadora e absolutamente equivocada, a convicção com que alguns médicos receitam e bancam a cloroquina e similares só não é maior do que a certeza que eles têm sobre os benefícios desses medicamentos. Para os leigos, parece apenas excesso de fanatismo e apego exagerado à ideologia em moda. Entretanto, a ciência, os operadores sérios da medicina e, sobretudo, a maioria do colegiado da CPI da Covid começam a questionar o zelo dos defensores das tubaínas, cujos efeitos ineficazes já foram publicados, republicados, informados e reinformados por cientistas de todo o planeta. Então, não é improvável que, além da morbidez, haja algo além do horizonte da saúde. Como explicar que, mesmo após dezenas de estudos contrários e 502 mil mortes, o remédio que não funciona ainda seja usado como tábua de salvação?
Perdoem-me a ignorância, mas impossível não imaginar a existência de alguma coisa fedorenta no reino da cloroquina. Nada contra sua composição farmacológica ou prescrição correta. Usada para os fins determinados na bula, comprovadamente a medicação alcança os efeitos desejados. O problema é sobre o tratamento precoce. Já fiz o mesmo questionamento algumas vezes neste espaço, mas não custa repeti-lo. Aliás, ampliá-lo. A quem interessa o uso da cloroquina? Por que, para determinados profissionais, só a cloroquina salva os infectados pela Covid? Por que o governo insiste em indicar um remédio que não tem eficácia contra o vírus? Por que o laboratório que produz o medicamento ainda não se pronunciou oficialmente? E, por fim, por que a medicação não conseguiu evitar pelo menos parte dos 502 mil óbitos?
Infelizmente, são perguntas que jamais terão respostas. E não adianta nem indagar se os intitulados “Médicos pela vida” tomam o que indicam. Repito que conheci numerosos usuários da cloroquina e da ivermectina que subiram aos céus. Não tiveram tempo sequer de informar se ficaram livres dos vermes. Por isso, se você prefere fugir das estatísticas fúnebres das secretarias de Saúde melhor evitar as tubaínas recomendadas pelos “Médicos pela Vida”. Nas sombras e tentando se ancorar em “estudos científicos atualizados”, mas desconhecidos de quem realmente pesquisa, esse grupo insiste numa tese descartada pela comunidade científica mundial por não apresentar comprovação da eficácia para combater, prevenir ou tratar a doença. Pelo contrário, evidências mais recentes sinalizam que esse tipo de remédio pode ocasionar complicações e alterações maléficas a pacientes em tratamento da Covid.
De forma bem didática, os “Médicos pela Vida” poderiam facilmente ser rebatizados. Talvez de “anjos”, oportunistas, mas nunca de especialistas. Um deles, Ricardo Ariel Zimerman, disse à CPI da Covid que “ensaios clínicos randomizados mostram que a cloroquina e ivermectina alcançaram uma redução de 85% na mortalidade de pacientes com Covid leve e moderada”. Novamente perdão pela imbecilidade, mas, havendo prevenção, nem o câncer ou a Aids matam no estágio inicial. São letais quando descobertos em estágios avançados. Assim é com o vírus. Dificilmente ele atinge quem se cuida. Se cloroquina e ivermectina salvam tanto quando diz o médico, o marketing desse(s) laboratório(s) precisa se reinventar. Não explorar dados alvissareiros repassados por quem “conhece” do riscado é estupidez.
Nunca nesse país a indústria farmacêutica anunciou remédio algum contra vírus, pois eles não existem. No máximo, usam a mídia ou os consultórios para demonstrar medicamentos para males específicos. No entanto, os “Médicos pela Vida” passaram a usar jornais de grande circulação para defender a cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D como tratamento precoce. Tudo isso após 502 mil mortes. A falta de respostas desperta a curiosidade de cientistas e leigos como eu. Quem financia essas baboseiras? O negacionismo é político ou econômico? É o mesmo que perguntar àqueles que acompanham a perseguição a Lázaro Barbosa como um psicopata consegue tanta arma e munição para enfrentar por 14 dias 200 policiais equipados para uma guerra. Será que em toda fazenda invadida há um arsenal esperando por ele? A quem interessa investir na ignorância do povo? Assim como a cloroquina, tornou-se complicado confiar no trabalho das polícias do Distrito Federal e de Goiás.