José Escarlate
A inflação galopante voltou a deixar suas marcas, enlouquecendo a vida do brasileiro. Em seu primeiro dia de vigência o Plano Cruzado convocou o povo para defender o programa de governo. O próprio presidente José Sarney fez um apelo à população no sentido de ajudar na fiscalização: “Cada brasileiro e brasileira – dizia – será um fiscal dos preços”.
Naqueles tempos ainda existia a Sunab que, isolada e capengando, não conseguia evitar os abusos e o desrespeito ao congelamento de preços. O comércio, principalmente os supermercados, passaram a ser vigiados e as remarcações denunciadas. Em vários estados houve saques e depredações e muitas lojas fechadas.
Assumindo, os “fiscais do Sarney” davam queixa à polícia informando que muitos produtos eram taxados com ágio. Por causa dos planos mal sucedidos e o alto índice de inflação, a gestão de José Sarney terminou com pouca credibilidade e aprovação popular. A euforia inicial passou a causar revolta na indústria, enquanto que os produtores agrícolas reclamavam que os preços tabelados eram insuficientes para cobrir os custos.
Produtos foram retirados de circulação. Os supermercados apresentavam problemas de abastecimento, em especial, carne e leite. A cobrança de “ágio” aumentou, chegando ao descontrole. Em 1987 o Plano Cruzado fez água e a inflação disparou, batendo a espetacular marca de 366% no acumulado de 12 meses. Só o gatilho aliviava o bolso do povo.
No mesmo ano, Sarney anunciaria a moratória (calote) da dívida externa, quando o Brasil deixa de pagar os juros da sua dívida externa, fazendo com que ela cresça cada vez mais. Com a quebra do cruzado, a inflação voltou novamente a subir, chegando a alcançar um índice de 1764% no ano de 1989.
O cenário da economia era sombrio. Sarney lançou ainda outros planos econômicos: o Cruzado 2, o Plano Bresser e o Plano Verão, que criou outra moeda, o Cruzado Novo. Todos falharam. Fizeram água. Só o real, de Itamar Franco, conseguiu domar a inflação, depois da fracassada bala de prata de Fernando Collor.