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Niilismo político de Marçal traz espectro bolsonarista

O cenário político brasileiro, notadamente em São Paulo, tem testemunhado uma ascensão de figuras que, embora carismáticas, propagam uma visão cínica e destrutiva da política. Pablo Marçal, influenciador digital e ex-candidato à presidência da República, é um dos principais expoentes desse fenômeno. Marçal, cuja trajetória é marcada por discursos disruptivos e promessas de transformação radical, exemplifica uma forma de niilismo político que, ao invés de contribuir para o avanço democrático, ameaça corroer as bases da política paulista e brasileira como um todo.

O niilismo político de Marçal – é um reflexo do bolsonarismo que se manifesta na sua negação das instituições tradicionais e na promoção de uma visão apocalíptica do sistema político vigente. Ele se apresenta como um “outsider”, alguém que rejeita as práticas políticas convencionais, mas que, paradoxalmente, se vale delas para construir sua imagem pública. Esse discurso, ao mesmo tempo em que atrai uma parcela do eleitorado descontente com os rumos da política tradicional, contribui para o enfraquecimento do debate democrático ao se sustentar em uma visão simplista e maniqueísta da realidade política.

No contexto paulista, a influência de Marçal não pode ser subestimada. São Paulo, historicamente um bastião da política conservadora e progressista, tem se tornado um campo fértil para discursos populistas e niilistas. A crise de representatividade, exacerbada por escândalos de corrupção e pela falta de resultados concretos na vida da população, cria o ambiente ideal para que figuras como Marçal prosperem. Seu discurso, que apela ao ressentimento e à frustração, encontra eco em uma parcela significativa do eleitorado paulista, especialmente entre os jovens e os desiludidos com a política tradicional.

O fenômeno Pablo Marçal e sua expressão de niilismo político representam um desafio significativo para a política paulista e brasileira. Enquanto ele se apresenta como uma solução para os males do sistema, na prática, seu discurso destrutivo e sua falta de propostas concretas colocam em risco o próprio processo democrático. Para que a política em São Paulo e no Brasil avance, é essencial que o debate público resista à tentação do niilismo e busque soluções que, ainda que complexas, sejam construtivas e inclusivas. Marçal, com seu carisma e discurso apocalíptico, nos lembra que a democracia precisa ser defendida não apenas contra seus inimigos declarados, mas também contra aqueles que, em nome da transformação, promovem a destruição das instituições que a sustentam.

*João Moura é Professor e Filósofo, observador da anatomia de governos e sociedade.

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