Xerifão dus bão, o ministro Alexandre de Moraes mijou fora da bacia. No jargão jurídico e na concepção bolsonarista, o juiz atuou fora do rito. No popular, fez caca para alcançar os fundamentalistas. Será que Moraes agiu como não deveria ter agido? Não sei, mas sei que nada do que ele produziu ou mandou produzir terá efeito prático na vida do mito Jair de Curicica. A cara de Bolsonaro continuará feia, o coração amargo e a mente fervendo com as inventadas teorias da conspiração. Em resumo, o mito passou como uma onda e, pelo menos até 2026, nada do que ele foi será novamente. Não adianta fugir, nem mentir ou espernear, vale o que está descrito no processo que lacrou os destinos do imbrochável ex-presidente.
Podem adjetivar como quiserem a conduta e a forma como Moraes negociou a troca de dados entre o STF e o Tribunal Superior Eleitoral. Talvez tenha faltado ética. No entanto, sobraram informações comprometedoras e provas inquestionáveis contra o cidadão que sempre se disse acima de qualquer suspeita. Não foi, não é e dificilmente será. Por conta do histórico do Jair e, valendo-me da história de Alexandre de Moraes, aposto e dobro com quem se apresentar como não há qualquer chance de reversão da inelegibilidade do político que tentou fazer da política e do Brasil o quintal de sua casa. Para ilustrar a defesa do ministro, seu crime, considerado gravíssimo pelos “patriotas” foi cumprir com seu dever de juiz.
Independentemente do jus sperniandi dos “patriotas” enviuvados com o passamento simbólico do Jair, também não há hipótese palpável de o Senado aprovar um eventual pedido de impeachment do ministro. Interessante é que a matéria que colocou Xandão na berlinda foi publicada no abominável (para os bolsonaristas) jornal Folha de S. Paulo. Legal ou ilegal, moral ou imoral, o fato é que os dados que geraram a publicação assanharam a turba da extrema-direita. Tanto que parlamentares, lideranças fajutas e rebeldes sem causa já se arvoraram em sonhar com o 17 ou 22 de novo na urna eletrônica, a mesma que eles achincalham desde que a derrota de 2022 começou a se desenhar.
Estão no direito de xingar o ministro e de gritar pela ilegalidade do que não deixou de ser legal. A pergunta que não quer calar é simples: Por que não gritaram durante a campanha de 2022, quando Jair Messias e sua tropa do mal tentaram de tudo pela reeleição que não veio? Quem não se lembra do diretor da Polícia Rodoviária Federal tentando impedir eleitores de Luiz Inácio de chegarem às zonas eleitorais do Nordeste? Será que alguém já se esqueceu da deputada Carla Zambelli armada correndo atrás de um cidadão em São Paulo? E do ex-deputado Roberto Jefferson trocando tiros com a Polícia Federal no Rio de Janeiro? E da tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023?
É óbvio que os bolsonaristas seguem a máxima dos políticos de ocasião e dos covardes por convicção. Eles esquecem o tamanho da orgia que produziram e o quanto bateram em quem atravessou os caminhos do seu líder de araque. Entretanto, adoram dizer que apanham. Pode ser, mas se apanham é porque merecem. Não tenho recibo para defender Alexandre de Moraes. Todavia, além de reconhecer o poder de polícia do TSE, não há como não registrar que, embora pareçam pouco republicanos, os procedimentos de Xandão foram registrados oficialmente e, no fim e ao cabo, ajudaram a impedir as fraudes eleitorais sonhadas pelos extremistas da direita.
Meus caros “patriotas”, chorem, gritem, xinguem, ameacem, esperneiem e lotem as redes sociais de fake news. Isso faz parte do modus operandi daqueles que não conseguem digerir a derrota. Nada mudará o painel pintado há mais de um ano pelo xerifão supostamente vacilão. Tudo continuará como dantes no quartel pulsante da democracia. Parafraseando Lulu Santos, tudo muda o tempo todo no mundo. Como no jogo do bicho, o que não muda é o que está escrito. A chance de alguma mudança na tela de Jair Bolsonaro é a mesma que o Comitê Olímpico Brasileiro tem de alterar o quadro de medalhas dos Jogos de Paris em favor do Brasil. Portanto, economizem a garganta, engulam o choro e se preparem para, quem sabe, voltar à cena nacional somente após 2030. Até lá, todos os caminhos levam a Xandão.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978