Dia dos finados
No calendário gregoriano, falecido nem bola dá mais
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emEstou vivo e hoje nem é meu dia de escrever. Sei disso, mas não posso deixar de lembrar que, para sorte dos machos alfas, há sempre uma noite no meio de um dia atrás do outro. É o tempo necessário que nós, os do verbo homem até debaixo d’água, levamos para pensar, sair do castigo e concluir que, além de sofrer e chorar por amor e morrer de paixão, toda penitência para macho é pouco. Com a rapidez de um raio, vamos da benção à provação. O mês de novembro é a prova mais irrefutável de que os varões são iguais a um cachimbo: nasceram para levar fumo. É o período em que somos punidos desde seu limiar. E não há nenhuma liminar que consiga reverter o quadro.
Nada contra, mas não faço parte do grosso dos sujeitos que são machos até debaixo de vara. Portanto, tô fora desse negócio do fumo. No entanto, tô dentro da máxima de que nascemos para carregar água na peneira para as mulheres e, conforme o erro, apanhar de toalha molhada. E não importa que sejamos amigados, juntados, concubinados ou amancebados. O pior deles (os erros) é deixar de comparecer no Dia de Finados com o chamado inativo, murcho ou falecido. E por conta desse tipo de situação que vem aquela história de que dependemos das moças de sexo forte até para ostentar o safado do chifre.
Deus me livre! Antes de seguir com a sofrida narrativa do sofrimento dos varões, tenho de registrar a glória e a inglória do décimo primeiro mês do ano no calendário gregoriano. Ainda bem que descobriram que ele é que proporciona à malandragem um ponto facultativo, três feriados nacionais e um distrital, o Dia dos Evangélicos que, apesar de ter sido criado por uma lei de caráter nacional, só é comemorado no Distrito Federal. Pois são os feriados que desgraçaram novembro. Sei lá quando, mas, honrosa e prazerosamente, fomos abençoados pelas mãos do Pai Nosso com um dia só para os homens. Falo de 1º de novembro, Dia de Todos os Santos.
A felicidade e a alegria duraram menos de 24 horas. Não sei o que se assucedeu lá no céu, mas quero crer em uma desavença familiar, pois, na mesma data à noite, a Mãe Santificada revogou a homenagem. Sem dó e nem piedade, Ela estabeleceu que o dia seguinte, o 2 de novembro, seria consagrado aos finados, vulgarmente conhecidos como aqueles cujo prazo de validade costuma não passar de 50 anos. E diziam que era um brinquedo para toda a vida. Passado um dia dos 51 anos, às vezes horas, e tudo que nos resta é ver o bigorrilho fazendo mingau em cima de uma árvore de Natal. É nós!
Sem medo de assombração, confesso que, em vida, convivi – de longe, é claro – com tantos desses finados que poucos podem imaginar. Convivi também com o que os muitos estão imaginando. Nada mudou. Os inválidos estão cada vez mais inanimados. Para não correr risco, já meu sombreiro para assombrear o morto. E as bolas? Não é novidade que, quando sobram, nem para enfeite servem. Por falar em falecidos, o que sei é que estou morrendo de medo do Novembro Azul, criado para lembrar aos machos alfas, betas e gamas que existe escondido em nós uma tal de próstata. Meu temor é que um desses deputados que passam o dia pensando em como sacanear o brasileiro apresente um projeto de lei instituindo o Dia da Dedada. Oh dor! Meu Deus! O que posso dizer? No meu, nem morto!
É triste lembrar dos mortos. Mais triste é perceber que o outrora colosso, além de não ralar e nem rolar, ele hoje tem pouca serventia até para atender à necessidade número um dos homens. Choremos o defunto mirrado dos mortos dos outros. Para os nossos imóveis sobrou o Viagra sob recomendação médica. Fora disso é fria, principalmente após a dobradura do Cabo da Boa Esperança. Que esperança? Sou um menino no corpo de um velho, mas portador de um impotente que ultimamente só faz graça para urologistas. Paz para os mortos e muito cuidado com o Viagra. Se o cabra murchou, acalme-se. Não gaste todo o seu dinheiro com o azulzinho, pois vai acabar ficando duro. Está dado o recado.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras