Era a noite de 31 de outubro. A noite de Halloween.
Trata-se de um evento de múltiplos significados. Para os cristãos, é a véspera e a antevéspera de duas datas religiosas importantes, 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, e 2 de novembro, Finados, o Dia dos Mortos. Aliás, o terno Halloween origina-se da expressão inglesa “All Hallow’s Eve”, Véspera de Todos os Santos.
Para os antigos celtas, a data correspondia aos festivais designados como Samhain, que assinalavam a chegada do inverno e o início de um novo ano. Nesse dia, diluíam-se as fronteiras entre o mundo dos vivos e os domínios dos mortos; para que estes não perseguissem os viventes, recebiam oferendas de comida e bebida, tradição que subsiste no México, no Día de los Muertos. O Samhain é uma das grandes datas de poder para as bruxas contemporâneas ligadas à wicca, religião neopagã.
E para as crianças, em especial as dos países anglo-saxônicos, a noite de Halloween é mágica, um misto de Natal e Carnaval, que lhes dá a oportunidade de ganhar presentes e sair fantasiadas pelas ruas, divertindo-se com os amiguinhos.
Mas algumas brincadeiras acabam mal.
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Em uma cidadezinha do Nordeste dos Estados Unidos, uma menina de 9 anos acabara de vestir-se para o Halloween.
– Estou bonita, mamãe?
– Você está uma vampirinha linda.
Era verdade. Sobre o vestido, ela colocara uma capa escura com forro vermelho, que tinha aplicadas sobre os ombros duas pequenas asas de morcego. A pele branca da garota contrastava com seus olhos escuros e grandes, ainda maiores devido à aplicação de sombra. Um batom de um vermelho berrante realçava seus lábios.
– Não se esqueça dos dentinhos – disse a mãe.
A menina sorriu com um ar superior, como se dissesse, “Não sou mais uma criancinha, mamãe”. Pegou os caninos de plástico em cima da mesa e aplicou-os sobre seus dentes. Depois, deu um beijo na mãe e saiu para seu primeiro Halloween.
As ruas estavam tomadas por bandos de crianças vestidas como zumbis, esqueletos, vampiros, fadas, e também cowboys, heróis de quadrinhos, da telinha e da telona – fantasiadas de tudo que se possa imaginar. A vampirinha não se juntou a elas, seguindo sozinha para a periferia da cidade.
Afinal, avistou o que procurava: uma casa isolada, sem nenhuma outra por perto. Tocou a campainha e esperou.
A porta abriu-se e apareceu uma senhora de ar bondoso, que sorriu para a menina.
– Travessuras! – gritou a garota.
– Não, mocinha – corrigiu a idosa. – Você deve falar “Gostosuras ou travessuras”. – Olhou-a de alto a baixo – Você está fantasiada de vampirinha, não é? Finjo que estou com medo de você e, para não ser atacada, ofereço-lhe gostosuras, quer dizer, doces e balas.
– Não gosto de doces e balas. Prefiro travessuras!
Tocou as asinhas de morcego, que cresceram e se abriram. Voou em direção à senhora e cravou-lhe os caninos no pescoço – os verdadeiros, finos, pontudos e mortíferos, escondidos sob as peças de plástico barato. Depois, saciada, os lábios ainda mais rubros de sangue, voou de volta para casa.