Uma visão apoteótica
No labirinto de profecias realistas, nota-se que João estava certo
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emCriada em ambiente religioso, ouviu falar sobre o fim do mundo.
A Bíblia acompanhava as noites revelando histórias.
A maior parte do tempo ouvia o novo Testamento, todavia o velho também ocupava um bom espaço.
Lembra-se do exílio do apóstolo João, desterrado na Ilha de Patmos, onde encontrou a visão profética, em uma caverna.
Aquela revelação a tocou profundamente.
Muitas vezes custava a dormir pensando o fim do mundo próximo. A insônia a abatia o cansaço tomava conta; ainda a esperar pelo final do planeta.
Depois de tantas tentativas, assistindo noticiários, só restava rir de tal profecia.
Tornou-se agnóstica. Entretanto, a semente depositada nunca morreu.
Talvez isso explique o fenômeno que vivenciou certa noite.
Não sabe se sonho ou pesadelo.
Atravessou uma passagem para dimensão desconhecida. Aproveitou o passeio, no direito de vagar.
Percebeu caminhos em alinhamento quando o poente iluminou as câmaras centrais do portal.
Viu-se mulher profundamente apaixonável.
Sentiu o corpo, aguardando a grande revelação. A sua íntima caverna ansiava.
Sentiu-se exilada, banida em busca de respostas.
Foram semanas entre as criaturas mutantes: o leão e o poder, o touro e as forças, o homem e a águia a fizeram compreender o quanto estava enganada.
Nesta viagem, viveu os quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Quase atropelada pelo cavalo-branco, cujo cavaleiro exibia uma coroa: sinal de vitórias. Foi içada para a cela e com ele cavalgou entre reverências e aplausos que levaram sua juventude esplendorosa.
Outra dimensão se abriu.
Desta vez o cavalo era vermelho. Corcel veloz que desbravava caminhos sem piedade, atropelava corpos. Fazia guerra, colocando em suas mãos a espada afiada o bastante para enfrentar o que viesse.
Guerreou e desonrou sua vida sofrida.
Não bastassem as batalhas, as dores suportadas, as cicatrizes a curar; o seu Ego foi vitimado.
E, um terceiro caminho apareceu.
Um negro cavalo encontrou-a fragilizada. Conseguindo esgotá-la com mais crises e desencantos.
A fome era tanta que abdicou dos princípios que reservara; resultado da carestia de sentimentos e emoções adoentadas.
Isso a levou ao último cavalo – amarelo – o inferno e à morte se mostraram companhias.
Foram sete selos a romper, quebrar lacres.
O quinto lacre mostrou o martírio.
O sexto foi seu túmulo.
Nesse momento compreendeu o perdão.
Orou. Clamou por proteção.
Finalmente exausta, desistiu e se entregou.
Um cordeiro apareceu e o silêncio se impôs.
E a Terra (meu corpo) dormiu na eternidade.
Acordou, suada.
Viu o apocalipse de forma diferente.
O Apocalipse na vida de uma mulher, ao errar, ao quebrar alianças e não saber escolher o João.
Uma versão impensada dos quatro cavaleiros do apocalipse que se perpetuam a cada ciclo.
Assim, agnóstica, todavia, espera o fim do mundo para saber se João de fato estava certo.