O resultado das eleições presidenciais deste ano no Brasil, seja ele qual for, não deve alterar de forma significativa as relações entre o país e o continente africano. A opinião é do analista em África, Altair Maia.
Uma eventual continuidade do Governo da petista Dilma Rousseff ou a vitória de Marina Silva (PSB), as duas candidatas que lideram as pesquisas de intenções de voto, não deve impulsionar o comércio entre o Brasil e os países africanos, como afirma o consultor internacional, autor de livros na área.
“Eu creio que, com Dilma ou com Marina, nós teríamos uma continuidade do mesmo. Uma continuidade da estagnação do comércio entre os dois países. Acredito que, com o candidato Aécio Neves (PSDB), possa acontecer alguma modificação disso, pelo menos, na questão do transporte que é o maior empecilho que nós temos. Isso poderia promover um grande desenvolvimento do comércio com o continente africano”, afirma Maia.
Os programas de governo dos candidatos à presidência falam de forma superficial em “atualizar os mecanismos de cooperação” com a África ou “promover maior aproximação”, com o continente, como cita o documento de diretrizes para um eventual novo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Para Altair Maia, a promessa, no entanto, de maior aproximação do Governo da petista não pode ser vista automaticamente como avanço, já que o movimento que o Brasil tem feito, nos últimos anos, em direção ao continente não significou necessariamente vantagens reais para os dois lados.
“A aproximação houve no sentido diplomático, de alinhamento de discursos. Isso realmente houve. Nós saímos de 18 embaixadas brasileiras na África para um total de 33 embaixadas hoje. Diplomaticamente nós estamos muito mais próximos. Agora, comercialmente estamos muito distante e nos distanciando”, disse o especialista, para quem hoje o comércio total da África atinge quase 1,4 trilhão de dólares. Para Altair Maia “o Brasil participa com 3% disso, é muito pouco para a relação que temos com a África, a questão cultural, social e sanguínea”.
O analista critica fortemente o atual modelo de relação que o Brasil tem com os africanos. “O Brasil perdoou quase um bilhão de dólares em dívidas dos países africanos. Perdoar dívida não é solução. Seria muito mais lógico que se vendesse essas dívidas dos países africanos para empresários brasileiros interessados em investir na África. Esses empresários iriam utilizar o crédito junto aos países no pagamento de tributos, terrenos”, propõe.
“Seria um aproveitamento de ambos os lados. O nível de industrialização na África é muito baixo. Então, qualquer empresa brasileira que se instale em algum país africano estaria levando desenvolvimento, melhorias nas condições de vida, gerando empregos”, continua.
Altair Maia é ainda mais duro, quando descreve como observa hoje o olhar do Governo brasileiro para os povos africanos. “É que o Brasil considera a África ‘uns coitadinhos’. E não são coitadinhos. A África não quer ajuda da forma que ela vem sendo feita. A África quer participar da corrida, da globalização. Não interessa se vão chegar por último. O que os africanos querem é participar, é parceria, ” conclui aquele especialista.
Maria Cláudia Santos, Voa da América