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No Rio, espetáculo teatral sobre homossexualidade mistura relatos reais com ficção

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O espetáculo “Domínio do escuro” vai circular, pela primeira vez, por lonas e arenas culturais do Rio de Janeiro, em apresentações gratuitas, com estreia no dia 24 de março, na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna. A peça traz uma visão original sobre um tema que merece ser pensado e discutido: a homossexualidade em um passado recente, através das vozes de idosos gays. Combinando ficção com relatos dos idosos entrevistados para a peça, a dramaturga e diretora Juliana Pamplona criou uma espécie de documentário poético importante para uma questão que ainda é complicada para a sociedade. Não à toa, o espetáculo foi contemplado por dois anos consecutivos: montado com o recurso do programa de  Fomento à Cultura Carioca na categoria LGBT em 2014.  Em 2016, “Domínio do Escuro” terá apresentações gratuitas e seguidas de debates, viabilizadas pelo aporte do edital Viva à Arte 2015 da prefeitura da cidade.

“Um dia, estava almoçando com a minha avó e perguntei se ela tinha algum amigo ou conhecido homossexual. Silêncio, em seguida interrompido pela resposta: ‘Não me lembro de ninguém’. Insisti: ‘Ah, vó, que pena, estamos pesquisando esse tema’. De novo um silêncio interrompido pela revelação: ‘Minha irmã era’. E então, com a voz embargada, me contou sobre como minha tia-avó, que sofria de uma ‘enfermidade’ que teve de esconder para não atrapalhar sua carreira ou sujar a reputação da família. O final não é feliz. Leila, ainda moça, internou-se num hospital psiquiátrico. Faleceu logo depois, levando com ela todo o peso de estar errada e desconforme com a sociedade em que vivia. O pouco que sabemos da história da minha tia-avó é repleto de hipóteses de ‘talvez’ e ‘eu acho que ela…’. O que não sabemos está para sempre silenciado.”

Histórias como essa contada pela atriz Lívia Paiva (23 anos), resgatadas ao longo do processo de pesquisa da peça, justificam a importância do projeto para Juliana Pamplona, idealizadora do espetáculo “Domínio do escuro”, criado a partir de registros antigos – fotos, diários, desenhos e cartas – e depoimentos gravados de idosos homossexuais, dos quais muitos tiveram suas histórias silenciadas em algum momento da vida e quiseram, agora, deixar seus relatos. “A ideia inicial foi a de resgatar e produzir registros de um legado que não chegou até nós. Conversamos com os idosos sobre assuntos diversos como amor, medo, vergonha e sexualidade. Foi muito interessante esse encontro de gerações – entre os oito idosos entrevistados, quase todos na faixa dos 70 e 80 anos, e os atores da peça, todos com vinte e poucos anos. Foi uma troca muito rica”, diz Juliana. “A escolha de juntar essas duas gerações nesse projeto não foi à toa. A peça é, também, uma pergunta à nova geração sobre o que significa assumir modos de ser e de se relacionar que resistem aos padrões normativos hoje e de que maneira a discussão de sexualidade e de gênero atravessa suas projeções de futuro, seus desejos de mundo. Foi por meio da interseção entre essas projeções de futuro e memórias, que o material poético e estético de “Domínio do escuro” foi criado”, complementa.

Três jovens atores – Clarisse Zarvos, Lívia Paiva e Pedro Henrique Müller – levam à cena versões performatizadas desse material documental. “Falar de desejos silenciados de uma geração distante da minha é visitar memórias e atualizar uma infinitude de afetos. O amor entre pessoas do mesmo sexo há alguns anos representava um tabu maior do que representa hoje, mas que nem de longe está superado. Quais situações impensáveis e silenciadas atualmente serão resgatadas pelas gerações seguintes?”, questiona a atriz Clarisse Zarvos, de 25 anos. O espetáculo conta também com a criação de videografismos produzidos por Pedro Modesto e trilha sonora de Jonas Sá, recursos fundamentais para que as histórias fossem contadas na forma performática desejada para a forma da cena.

“Domínio do escuro” é uma resposta (em aberto) a uma dívida histórica, que faz com que, ainda hoje, haja uma ausência enorme de narrativas de idosos gays e lésbicas (além de outras identidades de sexualidade antes não classificáveis e que vêm ganhando visibilidade). A criação desse espaço cênico dá visibilidade a histórias desviantes que, de outro modo, seriam apagadas muito em breve, acumulando mais legados invisíveis à margem da história normativa.

Unindo investigação artística ao compromisso com uma dívida histórica, “Domínio do escuro” – que estreou ano passado na Sede das Cias, na Lapa – vai circular, a partir do dia 24 de março, pelas lonas e arenas cariocas.

Ficha técnica:
Direção e dramaturgia: Juliana Pamplona
Elenco: Clarisse Zarvos, Lívia Paiva e Pedro Henrique Müller
Preparação corporal: Duda Maia
Cenário e Figurino: Elsa Romero
Iluminação: Lara Cunha
Vídeos: Pedro Modesto
Trilha Sonora: Jonas Sá
Programação Visual: Clarice Pamplona
Produção executiva: Clarisse Zarvos e Marina Gadelha
Direção de Produção: Fernanda Avellar
Realização: Trestada Produções

Veja a programação:

Arena Carioca Jovelina Pérola Negra – Pavuna
Endereço: Praça Ênio, s/nº – Pavuna
Telefone: 2886-3889

Dia: 24 de março (quinta-feira) – Com duas sessões

Horários: 15h e 19h30
Com debate após a primeira apresentação
Ingressos gratuitos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 308 lugares
Duração do espetáculo: 70 minutos
Gênero: Documentário LGBTTQ

Lona Cultural Municipal  Carlos Zéfiro – Anchieta
Endereço: Estrada Marechal Alencastro s/n – Anchieta
Telefone: 3019-1654

Dias: 2 e 3 de abril (sábado e domingo)

Horários: 20h (sábado) e 17h  (domingo)

Com debate no domingo após a apresentação
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 320 lugares
Duração do espetáculo: 70 minutos
Gênero: Documentário LGBTTQ

Lona Cultural Municipal Jacob do Bandolim – Jacarepaguá
Endereço: Praça do Barro Vermelho s/nº
Telefone: 3173-5460

Dia: 9 de abril (sábado) – Com duas sessões

Horários:  17h e 19h

Com debate após a segunda apresentação
Ingressos gratuitos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 320 lugares
Duração do espetáculo: 70 minutos
Gênero: Documentário LGBTTQ

Lona Cultural Municipal Herbert Vianna – Maré
Endereço: Rua Ivanildo Alves s/nº
Telefone: 3105-6815

Dia: 13 de abril (quarta-feira) – Com duas sessões

Horários: 14h e 16h

Com debate após a segunda apresentação
Ingressos gratuitos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 320 lugares
Duração do espetáculo: 70 minutos
Gênero: Documentário LGBTTQ

Arena Carioca Carlos Roberto de Oliveira – Dicró – Penha
Endereço: Av. Brás de Pina, s/n – Parque Ary Barroso – Penha (entrada pela rua Flora Lobo)
Telefone: 3486-7643

Dias: 23 e 24 de abril (sábado e domingo)

Horários: 20h (sábado) e 19h (domingo)

Com debate no domingo após a apresentação
Ingressos gratuitos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 338 lugares
Duração do espetáculo: 70 minutos
Gênero: Documentário LGBTTQ

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