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Lições de Leleco

Nogueira ou não, pau de Chico dá em Francisco

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José Seabra, Diretor-Editor

Alquimista das letras, Leleco transformava em ouro as palavras que saíam da velha Remington que ele usava na antiga sucursal de Folha de S.Paulo, na 104 Sul. De saudosa memória, dono de um glossário imensurável, ele costumava dizer da dificuldade de se conciliar repórter e redator em um só profissional.

Leleco era um elucidário por natureza. Avesso ao jornalismo arcaico, orientava sua equipe a usar sempre o básico: o quê, quando, onde, como e por quê. Detestava o ‘por outro lado’, atribuindo a expressão aos glúteos; literalmente por trás. E jornalista, dizia, é linha de frente.

Leleco viveu para assistir na televisão manifestações do vocabulário vetusto de Enéas. Também usava o Velho Guerreiro como exemplo de uma comunicação concisa e precisa. Nada de nariz de cera, de muito escrever como se lauda de redação fosse pergaminho de advogado que tudo aceita.

Em outras plagas, em busca de novas sagas, discípulos de Leleco procuravam transmitir o aprendizado do mestre. E como não havia a figura completa do repórter-redator, buscava-se minimamente traçar esse perfil. Precisão na informação era fundamental. Atribuir a fontes bem situadas só em caso imprescindível. Muitas vezes, alertava Leleco, era melhor derrubar a matéria.

Muitos chefes de redação se inspiraram em Leleco. Naquela época houve quem aprendesse, mas que com o tempo viu-se engolido pelo avanço tecnológico, e não da profissão. Passou, assim, a digitar e não necessariamente a escrever textos intermináveis, muitas vezes sem pé nem cabeça.

São profissionais que se hoje fossem submetidos à prova da fonte palaciana, tirariam nota zero. É gente que corrompe palavras para falar de corrupção; profissionais que se permitem ser usados, atropelando um código de ética que não pode nem deve ser manchado.

Como fazia com Enéas e Chacrinha, Leleco, se vivo fosse, citaria Jorge Aragão. Ele, um paulistano amante de Adoniran Barbosa, por certo lembraria que o samba nasceu lá na Bahia. E diria a moleques atrevidos da necessidade imperativa de respeitar onde pouca gente chegou.

O resto viria na audição de um antigo CD. Porque, faça o favor, como no samba, jornalismo também teve seu tempo sem grana, mas de glória.

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