Eu os conheci em uma manhã ensolarada na praia de Itapuama, neste doce verão pernambucano. São a família Saravi, da cidade de Tandil, província argentina de Buenos Aires. Christian (44), Lucía (35), Santiago (11) e Agustín (2). Há um ano, conta Lucía, com os lábios molhados de água de coco, quando planejavam a próxima viagem, surgiu a ideia de fazer algo diferente. Sem destino e sem dias fixos aqui ou ali, decidiram que a aventura seria em direção ao Nordeste brasileiro. E assim fizeram.
Com limitações impostas pela situação econômica do país vizinho, adaptaram um modelo Citroen que faz lembrar um Frankenstein moderno, coberto com cor branca e outra suavemente acizentada, para, supus, esconder cicatrizes de soldas. “Conseguimos algo confortável para nos alojar e que, ao mesmo tempo, permitisse transportar tudo o que é essencial para viver”, revela Christian, tentando fazer-se entender com um portunhol arranhado.
Dada a bandeirada de largada, de lá vieram o patriarca, apaixonado por futebol e churrasco; a esposa, uma mulher de espírito livre e apreciadora de danças latinas; e os filhos, um pré- adolescente e uma pré-criança. Havia neles a ansiedade em descobrir as maravilhas que os aguardavam do outro lado da fronteira.
A primeira parada da família foi na paradisíaca Porto de Galinhas, onde as águas mornas e cristalinas do mar proporcionavam um cenário de cartão-postal. Christian, encantado com a hospitalidade brasileira, logo fez amizade com os nativos em um animado jogo de futebol na praia. Enquanto isso, Lucía aproveitava para aprimorar seus passos de salsa em uma aula improvisada à beira-mar.
A família, cheia de energia, não resistiu à tentação de explorar os recifes de corais e se aventuraram em mergulhos incríveis, descobrindo a riqueza da fauna marinha nordestina. Entre risadas e histórias compartilhadas com outros turistas, os Saravi perceberam que a viagem ia além de simplesmente visitar lugares bonitos; ela era uma jornada de conexões humanas e descobertas pessoais.
A aventura segue. Já foram mais de oito mil quilômetros percorridos. Uma parada em Alagoas, contam o patriarca e a matriarca, permitiu experimentar o autêntico sabor da culinária local. Como em outras cidades nordestinas, foram conquistados pelo paladar de iguarias como o acarajé, a moqueca e o vatapá conquistaram o paladar dos Saravi.
Em Itapuama, noite de Lua Cheia, a família participou de uma roda de capoeira, imergindo ainda mais na rica cultura nordestina.
Olinda fez parte do roteiro. Eles chegaram à histórica cidade com suas ruas de paralelepípedos e casarões coloridos. A família se encantou com as manifestações artísticas e as tradições preservadas ao longo dos séculos. Christian, com uma viola imaginária a tiracolo, juntou-se a uma roda de músicos locais, criando uma mistura única de ritmos argentinos e brasileiros.
Ainda no meio da jornada, enquanto contemplavam o pôr do sol nas falésias de Pipa, os Savasi perceberam que, mais do que turistas, haviam se tornado parte daquela terra acolhedora. A viagem pelo litoral nordestino não era apenas sobre praias paradisíacas, mas sobre as pessoas, as histórias compartilhadas e as memórias preciosas que levarão para a Argentina.
Christian e Lucía dizem estar preparando a despedida já com os corações cheios de gratidão e alegria. Na bagagem do retorno a Tandil, não apenas lembranças inesquecíveis, mas também a certeza de que as fronteiras entre países podem ser superadas pela beleza da diversidade e pela magia dos encontros que acontecem ao longo do caminho.
Até que os conheci, já haviam visitado mais de 20 cidades. E a jornada pela frente, dizem, ainda é longa. “Nossos objetivos são claros e estão sendo cumpridos dia a dia: conhecer o povo brasileiro com seus costumes e gente, fortalecer-nos como família, gerar aquela confiança ilimitada que só as situações extremas permitem e aprender a valorizar a vida na forma mais pura, deixando de lado o material e enriquecendo-nos com experiências e anedotas”.
Um até breve. E Lucía pede: Los invitamos a que sigan nuestra aventura en Instagram @baratoando.