O presidente Jair Bolsonaro estava programando viajar a Fortaleza neste sábado, 20. Mas a ideia foi deixada de lado após uma declaração infeliz sobre os governadores do Nordeste. Bolsonaro assistiria ao jogo do Palmeiras (time da sua preferência) contra o Ceará, no Castelão. Mas foi informado que, até segunda ordem, é persona non grata entre os nordestinos. Motivo da nova polêmica: o presidente, referindo-se aos governadores do Nordeste, disse na sexta, 19, que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”.
O uso de um termo pejorativo para se referir aos nordestinos provocou a reação de governadores da região, que manifestaram “espanto e profunda indignação”. A fala do presidente foi durante uma conversa informal com o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni, que é gaúcho e torcedor do Internacional, time que eliminou o Palmeiras da Copa do Brasil no meio da semana.
Os governadores divulgaram uma carta em resposta ao presidente. E cobraram explicações sobre acenos de retaliação de Bolsonaro a opositores. O presidente fez o comentário ao receber para um café correspondentes da imprensa estrangeira. Na carta-aberta veiculada nas redes sociais, os governadores afirmam ter recebido “com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional”. O comunicado conclui: “Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia”.
Os governadores do Maranhão e da Paraíba também se manifestaram nas redes sociais. “Como conheço a Constituição e as leis do Brasil, irei continuar a dialogar respeitosamente com as autoridades do governo federal e a colaborar administrativamente no que for possível. Eu respeito os princípios da legalidade e impessoalidade (artigo 37 da Constituição)”, disse Flávio Dino (PC do B), do Maranhão.
João Azevêdo (PSB), da Paraíba, disse condenar “qualquer postura que venha ferir os princípios básicos da unidade federativa e as relações institucionais deles decorrentes. A Paraíba e seu povo, assim como o Maranhão e os demais estados brasileiros, existem e precisam da atenção do governo federal independentemente das diferenças políticas existentes. Estaremos, neste sentido, sempre dispostos a manter as bases das relações institucionais junto aos entes federativos, vigilantes à garantia de tudo aquilo a que tem direito”.
O Palácio do Planalto não comentou o episódio. Leia a íntegra da carta:
“Carta dos Governadores do Nordeste
19 de Julho de 2019
Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população.
Recebemos com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.”