No sertão árido, no agreste e até na zona da mata do Nordeste, onde o sol castiga com mais força e a vida se desenrola num compasso próprio, o Sistema Único de Saúde (SUS) ganhou um apelido triste e irônico: Seu Último Suspiro. Os moradores sabem bem o que isso significa. A espera por atendimento é longa, e a esperança de um tratamento adequado é muitas vezes um luxo que poucos podem se dar ao luxo de ter.
Maria, uma senhora de setenta e dois anos, conhece bem essa realidade. Mora numa casinha simples de taipa, onde as paredes finas pouco protegem do calor escaldante. A saúde frágil de Maria, com a pressão alta e o diabetes descontrolado, exige visitas regulares ao posto de saúde da cidade. Mas lá, encontrar um médico é um desafio. Quando consegue uma consulta, a atenção é apressada, quase automática, um reflexo do cansaço e da sobrecarga dos profissionais.
“Seu Último Suspiro”, dizem os vizinhos, rindo com um humor amargo. No fundo, sabem que não há outra opção. As ambulâncias, raras e velhas, mais parecem relíquias de um tempo esquecido. Quando surge uma emergência, como a de João, que caiu de um andaime e quebrou a perna, a solução é improvisada. O carro velho de um amigo vira ambulância, com João gemendo no banco de trás, enquanto percorrem os buracos das estradas de terra, numa viagem interminável até o hospital mais próximo.
O hospital, quando finalmente chegam, é um cenário desolador. Corredores lotados, pacientes esperando em macas improvisadas, a falta de equipamentos e medicamentos é palpável. Os profissionais, heroicos em sua resistência, fazem o que podem. Mas a estrutura é precária, e os recursos, escassos.
O retrato do SUS no Nordeste é um reflexo das desigualdades do país. Em meio a tanta adversidade, os nordestinos seguem firmes, com uma força que só quem vive essa realidade pode entender. A solidariedade entre os moradores, o acolhimento caloroso e o espírito de luta são o que mantém a chama da esperança acesa. Mas a saúde, essencial para qualquer sociedade, é uma ferida aberta.
Em dias de chuva, raros e bem-vindos, os moradores se reúnem nas varandas, agradecendo a bênção da água. Mas mesmo nesses momentos, o tema da saúde volta à tona. O SUS, com todas as suas falhas e dificuldades, é um direito conquistado a duras penas. E apesar de todos os pesares, é um sistema que ainda representa uma esperança, por menor que seja.
Seu Último Suspiro é uma expressão que carrega uma carga de resignação e desespero, mas também de resistência. No sertão, onde a vida é uma luta diária, o SUS é mais que um sistema de saúde. É um símbolo de um país que ainda luta para cuidar de seus filhos mais esquecidos. E enquanto houver luta, há esperança. Mesmo que, por vezes, essa esperança pareça ser apenas um último suspiro.