Pernambuco
Nos postos de saúde falta tudo, menos os pacientes de sempre

Não se trata de um caso isolado. São muitos. A verdade é que, na Região Metropolitana o Recife, os postos de saúde mantidos pelo Estado e municípios abrem as portas às sete horas, mas a fila começa antes do sol nascer.
Tem gente com febre, tosse, pressão alta, dor no corpo e no coração. Gente que acorda com esperança de ser atendida e vai dormir com um papel na mão dizendo: “volte outro dia”.
Na parede, um cartaz colorido fala sobre prevenção, vacinas e atendimento humanizado. Bonito de ver. Pena que, do outro lado da parede, falta tudo: luva, algodão, seringa, termômetro, gaze, esparadrapo. O álcool sumiu. O aparelho de medir pressão pifou faz tempo e ninguém conserta. Tem sala sem luz, armário vazio, e geladeira desligada — e que devia estar cheio está às moscas.
O profissional de saúde até quer ajudar, mas como? Médico vira mágico, enfermeira vira psicóloga, atendente vira escudo. Eles fazem o que dá com o que não têm.
Enquanto isso, a dona Marta volta pra casa com a receita na mão e a pergunta na cabeça: “pra que serve receita se não tem remédio?”
E é assim, onde o povo precisa de cuidado e encontra apenas um aviso na porta: “hoje não tem atendimento; faltam materiais.” Falta tudo. Menos o povo. O povo sempre volta.
