Notibras

Nossa gente repleta de imaginação vive do passado

Aquela gente era cheia de imaginação. Se alguém mais perspicaz parasse um pouco para pensar, logo perceberia que tudo aquilo não passava de devaneio. No mínimo, exagero.

É verdade que atravessaram o Atlântico. Bem, com lobos ferozes nos calcanhares, o abismo parece ser a melhor solução. E foi o que os antepassados daquela gente fizeram. Cheios de vontades e coragens, tiveram a petulância de sobreviver, quase nunca de viver.

Pior mesmo foi o que os ascendentes daquela outra gente passaram. Nem vontades, nem coragens, apenas resiliências e teimosias. Costas marcadas, o couro se fez grosso. Que fosse assim ou fosse assim mesmo. Não tinha jeito, pois o jeito era esse e acabou.

Não nos esqueçamos daqueles antigos, cujos descendentes quase desapareceram. Que litoral não era lugar para aquela gente. Que saísse enquanto havia sobrevivente. Terreno em frente à praia é para gente que trabalha, gente que nem aquela gente, que continua cheia de imaginação.

Até quando, minha gente, aquela gente, que não se cansa de exaltar que são descendentes, vai querer manter apagada a memória de tanta gente, seja gente forçada, seja gente que já estava por aqui?

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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