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Leitura dominical

Notibras estreia ‘O lado B da Literatura’, pela pena utópica de Cassiano Condé

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Autor/Imagem:
Cassiano Condé - Foto Acervo Pessoal

Telefone toca. Não quero atender. Ih, é o Seabrinha (José Seabra).

— Seabrinha! Há quanto tempo? Pensei que já havia morrido.

— Pois pensei o mesmo de você, Condé.

— Não se preocupe, pois quando eu for, te puxo pelo pé.

A conversa prossegue com as costumeiras ofensas inofensivas entre velhos companheiros, até que o meu amigo de longa data revela o verdadeiro motivo da ligação.

— Condé, que tal voltar a escrever aqueles seus comentários mordazes para o Café Literário?

— Mordazes? Mas sou tão fofinho.

— Sim, sei…

Diante de pedido de parceiro da antiga, eis que estou aqui para soltar o verbo. E o primeiro assunto será justamente o Seabrinha, jornalista com aquele jeitão de cronista.

José Seabra Neto é filho do lendário Geraldo Seabra, o Geraldão, de quem herdou parte da combatividade, pois o velho era um titã do jornalismo.

Há duas décadas e meia, o Seabrinha, cansado da mesmice do jornal impresso, resolveu apostar em ser patrão dele mesmo. Imaginou um veículo independente e, assim, surgiu o Notibras. E, apesar da correria e dos percalços para manter o portal no ar, tenho certeza de que o velho Geraldo, lá do céu, está satisfeito com o desempenho do filho, que ainda arrumou tempo para ser escritor.

Autor do romance “A fonte”, José Seabra também dedica sua pena a crônicas com aquele gosto de caldo de siri acompanhado de cachaça de primeira (com scoth como tira-gosto) em frente à praia de Itapuama, em Cabo de Santo Agostinho, coladinho à sua terra natal – Recife.

Por falar em “A fonte“, trata-se de um romance repleto de intriga, traição e suspense, que desvenda uma rede de corrupção em Brasília. Os leitores, ainda mais aqueles antenados com os bastidores da capital federal, terão dificuldade em separar o que é realidade e o que é ficção. No meio disso tudo, está o protagonista, o charmoso jornalista Rodrigo El-Awar, no melhor estilo Omar Sharif.

Voltando ao autor, tenho observado, ora distante, ora no cangote, a trajetória desse rapaz latino-libanês, sempre afeito ao jogo jogado e, por isso, desafeto de politicagem e politiqueiros. Posso garantir que já ouvi vários elogios dirigidos ao Seabrinha, mas me divirto mesmo é com os impropérios que o meu amigo recebe, cujos autores não valem o álcool de um mimeógrafo.

“Esse José Seabra não passa de um guerrilheiro acobertado pelas trincheiras comunistas do jornalismo”, frase dita por um apoiador da Ditadura Militar, é a que mais me causa sentimento de inveja. O motivo? Queria eu tê-la recebido, pois mandava emoldurar e pendurar na sala daqui de casa.

……………..

Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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