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Nova cepa pode ter levado caos ao Amazonas

Pesquisadores no Brasil acreditam que a nova variante do coronavírus identificada no Amazonas pode estar por trás do caos vivido nos últimos dias em Manaus. O sistema de saúde da capital do Amazonas sofre nos últimos dias com a falta de oxigênio, de leitos de UTI e equipamentos para lidar com o forte aumento no número de internações.

Pacientes estão sendo transferidos para outros Estados e o governo amazonense está convocando a ajuda de empresas para fornecer oxigênio e materiais para os hospitais. Segundo Felipe Naveca, cientista da Fundação Oswaldo Cruz no Amazonas que liderou as pesquisas sobre a cepa, a nova variante do coronavírus teve origem “sem dúvida” na Amazônia.

Ele disse à BBC na América do Sul que a nova variante mostrou algumas das mesmas mutações que as novas variantes detectadas no Reino Unido e na África do Sul – e “algumas dessas mutações foram associadas a um aumento da transmissão e isso é preocupante”.

Já em entrevista para a agência AFP, Naveca disse: “Existe essa possibilidade (de a nova variante ter maior poder de contágio), eu não posso garantir que isso já esteja ocorrendo, mas existe por conta das mutações que ela apresentou na posição 484 e 501, são mutações que são associadas a esse potencial de mais transmissão. Então muito provavelmente sim.”

A piora da situação em Manaus não se deveu apenas a uma variante, diz Naveca, observando que as autoridades esperavam um aumento nos casos de vírus devido às festas de fim de ano.

“Precisamos de apoio urgente da população para reduzir a transmissão e desacelerar a evolução do vírus”, disse Naveca à AFP.

Outro pesquisador, Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, disse ao jornal Estadão que a nova variante é a “explicação mais plausível” para a recente explosão de casos.

“Apesar de todo esse contexto de relaxamento da população em relação aos cuidados, acreditamos que esta nova cepa é a explicação mais plausível para um crescimento tão explosivo considerando o histórico de Manaus”, diz Orellana.

“Porque esse tipo de crescimento tão explosivo a gente normalmente aceita quando toda a população é considerada suscetível ao novo vírus. Mas essa disseminação que estamos vendo num contexto em que pelo menos 30% a 40% da população já tinha sido exposta ao coronavírus só pode ser porque essa nova cepa se programa muito mais rapidamente que todas as 11 variantes que circularam antes na região.”

Reino Unido e África do Sul também tiveram mutações do coronavírus identificadas. No caso do Reino Unido, pesquisadores determinaram que a nova variante britânica era 70% mais contagiosa do que a que existia anteriormente.

No país, a cepa foi considerada um fator importante no novo surto que surgiu na véspera do Natal do ano passado. O Reino Unido ainda está sob forte regime de lockdown por conta desse surto, e diversas nações baniram pessoas que chegam do país.

Nesta sexta-feira (15/01), chegadas ao Reino Unido da América do Sul e Portugal passaram a ser proibidas devido a preocupações com a nova variante brasileira do coronavírus — que já foi identificada até no Japão.

Vacinas
O epidemiologista britânico Mike Tildesley disse à BBC que não acredita que a eficácia das vacinas atualmente em uso em outros países deva mudar com as novas variantes.

As vacinas combatem os sintomas da covid, mas não impedem necessariamente a transmissão do coronavírus entre pessoas.

Mas existe a possibilidade dessas novas variantes prejudicarem os sistemas de saúde e hospitais, já que mais pessoas estariam contraindo o vírus — sobretudo neste momento em que a maioria das pessoas ainda não foi vacinada.

Tildesley acredita que a proibição de viagens para a América do Sul no Reino Unido entrou em vigor um pouco tarde — mas ele diz que a medida ainda vai “minimizar o risco” da nova variante do coronavírus identificada no Brasil entrar no Reino Unido.

“Sempre temos esse problema com a proibição de viagens, é claro, que sempre estamos um pouco atrasados”, disse ele à BBC.

“Com a Covid, precisamos lembrar que, quando você desenvolve os sintomas, pode ter sido infectado há algumas semanas. Portanto, é muito importante que essas proibições de viagens cheguem rapidamente para que possamos evitar qualquer risco.”

Ele também diz que os cientistas saberão “nos próximos dias” se a proibição teve “um efeito significativo” em conter a pandemia.

Ele acrescenta que a nova variante “mais transmissível” do coronavírus encontrada no Brasil foi “detectada pela primeira vez em viajantes que iam a Tóquio” antes de ser rastreada até a América do Sul.

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