Rio de Janeiro, 15 de setembro. Após passar uns dias a trabalho na Cidade Maravilhosa, volto para Brasília num domingo nublado. Antes, consigo convencer Daniel Marchi, editor de Cultura de Notibras, a dizer algumas palavras sobre a editoria Café Literário, que acaba de entrar no ar, trazendo textos de qualidade e relevância, selecionados por ele, o Bruxo do Méier, e Eduardo Martínez.
Encontramo-nos num shopping da zona sul carioca e, entre algumas xícaras de café, ele, normalmente resistente a entrevistas, vai se soltando aos poucos e me respondendo.
Selecionei os trechos a seguir:
Ficou satisfeito com o resultado do Café Literário?
Demais! A adesão que recebemos, desde quando a ideia surgiu e foi imediatamente abraçada pelo nosso editor Wenceslau Araújo, que ouviu Armando Cardoso (presidente do Conselho Editorial) e José Seabra (fundador de Notibras), não chegou propriamente a me surpreender. Afinal, Notibras é um portal de notícias, mas é também fortemente literário. Acho que poucos portais dedicados à notícia em nosso país dão tanto destaque à literatura e à poesia como temos feito. E, dentre os que gostam de ler, muitos há que gostam de escrever também. Ao menos era esse o pensamento que tínhamos. E foi exatamente o que se confirmou. Recebemos muito material de qualidade, que vamos publicando à medida em que o espaço vai se desenvolvendo. Quase todo dia chegam textos novos e surpreendentes. São muitos talentos escondidos nesse Brasil imenso, que esperam apenas uma oportunidade de divulgação. Fico pensando quantos escritores conhecidos podem surgir do Café Literário.
Qualidade é essencial?
Sem dúvida. Mas “qualidade” na produção textual pode ser uma coisa muito subjetiva. Posso gostar ou não do estilo de um escritor ou poeta reconhecido, mas posso adorar escritores e poetas obscuros e não divulgados. Notibras abre as portas, é um portal democrático. Veja, os poetas e escritores que vieram antes de nós tinham um ponto a seu favor: apoiavam-se e divulgavam-se mutuamente. Tenho feito imersões em veículos de imprensa de outras épocas, mais precisamente do Modernismo para cá, e vejo muito essa característica: as pessoas que escreviam apoiavam umas às outras quando estavam na posição de editores ou mesmo donos de periódicos. Mais do que apenas incentivar a leitura e a escrita, temos de abrir espaços democráticos para divulgação. É claro, sem descurar de um mínimo de qualidade literária, no sentido de selecionar textos que atendam às expectativas editoriais propostas. E o sentido do Café Literário é justamente este, de receber contos, crônicas e poemas de autores de todo o Brasil e até do exterior, desde que em língua portuguesa, o que, obviamente, não impede que tenham expressões em outros idiomas.
E o que tem significado o Café Literário para você?
Você deve saber, tão bem quanto eu, que o ato solitário de escrever, de mergulhar em si mesmo para colocar na folha em branco nossas ideias, é extremamente prazeroso. Quando publicamos e recebemos algum retorno, melhor ainda, porque significa que aquilo que estava dentro de nós, que foi gestado em nossos mais íntimos limites, falou ao sentimento de outra pessoa de alguma forma. Mas encontrar esses novos talentos tem sido muito gratificante. Dá um sentido todo novo à nossa atividade de escritor. Passamos a ler e criar pontes. Deixamos de lado a nossa própria criação, mesmo correndo o risco de sermos sabotados pela própria vaidade (risos) e vamos buscando outras visões, outros pensamentos, e isso também nos enriquece.
Café Literário veio para ficar?
Sem dúvida. Daqui a um tempo haverá novidades na editoria. Temos a intenção de lançar um concurso literário, premiar os escritores e, quem sabe, produzir um livro a partir dos textos do Café. São sonhos em gestação.
O que a editoria busca?
Continuar a receber os textos dos colaboradores, estando abertos para uma leitura compreensiva e ao mesmo tempo crítica. Crítica, como eu já havia dito, segundo os padrões editoriais que esperamos em crônicas, contos e poesias.
O que você diria aos autores cujos textos ainda não foram publicados?
Que isto não significa um demérito, ou julgamento à sua capacidade objetiva de escritor. Afinal, toda avaliação, ou melhor, escolha, é precedida de uma tendência, um gosto pessoal, uma subjetividade… Houve textos, por exemplo, que não utilizamos para a publicação imediata porque tratavam, em linhas gerais, dos mesmos temas que os anteriormente selecionados para sair já nessa estreia da editoria. Mas isso não quer dizer que não venham a ser aproveitados no futuro próximo. E minha palavra final é: continuem escrevendo e nos enviando suas produções. O Café Literário está sempre de portas abertas. Nosso e-mail é concursocontosecronicas@notibras.com