Comprovando as teses de que a fila anda e de que rei morto é rei posto, o Supremo Tribunal Federal adiantou na quarta-feira (24) o que meio mundo já esperava. Unido e coeso, o plenário da Corte elaborou a lista com quatro nomes de juristas para as duas vagas abertas no Tribunal Superior Eleitoral. O inusitado não é a coesão, mas a sucessão de fatos que levaram Luiz Inácio a agir como um raio e, antes mesmo de a bola cair no chão, matá-la no peito e cravar os juristas Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares como novos ministros da Corte Eleitoral. Foram apenas três horas entre a indicação e a nomeação. Como não há necessidade de sabatina, os dois tomarão posse na próxima terça-feira (30) e, a partir daí, estarão aptos a participar do julgamento de uma série de processos contra Jair Messias, entre eles o que trata da provável inelegibilidade do ex-presidente.
Nesse processo, o capetão é acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, agravados pela realização de uma reunião com embaixadores, quando o ex-mito atacou o sistema eleitoral do país. As curiosidades começaram com a unanimidade dos indicados a dedo pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente da Justiça Eleitoral, incluindo o apoio dos ministros bolsonaristas Kássio Nunes Marques e André Mendonça. Todos receberam 10 votos. Tudo indica que, atendendo “recomendações” do PT e de Xandão, Lula escolheu os dois mais sintonizados com o governo federal. Além de André Ramos Tavares e de Floriano de Azevedo Marques, concorriam às vagas Daniela Borges e Edilene Lobo.
A rapidez da indicação significa que o gran finale de Bolsonaro não será empurrado para o segundo semestre. Xandão atuou para manter sua influência no tribunal durante o processo de escolha dos nomes e acabou blindando a Justiça Eleitoral, garantindo que Jair de Curicica seja jubilado da vida política o mais breve que se possa imaginar. Não há prazo para a definição do presidente, mas, desde cedo, a expectativa é de que ela fosse rápida. E foi. Das várias curiosidades da sessão do Supremo, a que mais chamou a atenção dos antibolsonaristas foi o agradecimento de Alexandre Moraes à presidente do STF, ministra Rosa Weber. “O resultado demonstra a coesão do Supremo e o apoio da Corte ao TSE”.
Dito isto, acho que a cabeça de Jair Messias já está na bandeja, podendo espirrar para a cova com apenas um peteleco. Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Benedito Gonçalves são votos certos pela inelegibilidade, contra os supostos posicionamentos de Nunes Marques e de Raul Araújo (STJ), este um bolsonarista claudicante. Luiz Inácio, o Partido das Lágrimas (PL), Valdemar Costa Neto, o clã que desgovernou o país, a patriotada sem rumo, os terroristas presos por conta de 8 de janeiro e o mundo político sabem que a rapidez na indicação dos futuros ministros do TSE levou em consideração o placar que deverá garantir a condenação do líder do quanto pior melhor.
Fosse próximo da turba da República da Tortura, repetiria para o Bozo a célebre frase atribuída ao imperador de Roma Caio Júlio César: “Alea Jacta Est”, que, aportuguesada, significa a sorte está lançada. E realmente está. O senso comum e a união de togas indicam que os fatores determinantes de um resultado estão postos, ou seja, as variáveis estão postas. A defesa e o meio de campo do time principal estão definidos. Faltavam os dois pontas para o jogo ser iniciado. Eles também já estão em campo. Quanto ao goleiro da equipe adversária, resta engolir o frango (sem farofa) em silêncio, gritar e ameaçar o peru, recolher o periquito na muda, ouvir as corujas e se contentar com a pomba caseira.
Parafraseando o filósofo Aristóteles, adianto que, qualquer que seja a decisão, virá o arrependimento. Afinal, além do risco de debandada individual ou coletiva, há o perigo de sua fugaz existência como mandatário e líder de um turma lapidada no ódio acabar se transformando em uma oferenda dos deuses ao diabo de asas. Como diz o poeta moçambicano Mia Couto, “os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odeiam desde sempre. Quem mais deve temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados”. Luiz Inácio deu a volta por cima. Se cuida, Jair, antes que o jacaré e Xandão te abracem. Cabra bão esse tal de Xandão.