Asa Norte
Nova moradora do pedaço arranca suspiros com namorado barrigudinho

Creusa acabara de se mudar para a quadra. No entanto, não tardou, começou a dar o que falar, ainda mais por conta das coxas torneadas, fruto da genética e das pedaladas que a moça dava todas as manhãs antes de se arrumar para o trabalho. Não faltavam pretendentes à mais nova moradora, mesmo porque, até onde se sabia, a mulher era solteira.
Márcio, o mais disputado gatão do pedaço, fazia questão de, sempre que possível, desfilar seu físico apolíneo para o deleite de olhos interessados, fossem de mulheres solteiras, casadas, viúvas, tico-tico no fubá ou de viventes interessados em tirar uma lasquinha daqueles músculos saltados. E não havia quem resistisse quando ele parava e, com aquela voz rouca de cantor de boate, entonava um convite.
— E aí, gata, que tal um cineminha mais tarde?
Até dona Eulália, já passada dos 90 anos, parecia ainda guardar no peito a esperança de ser a escolhida para assistir ao filme em cartaz. Na verdade, ela nem ligaria se fosse uma reprise de uma antiga película B na televisão de tubo. No entanto, o gajo parecia interessado em outra mulher muito mais jovem, justamente a Creusa. Pois é, a Creusa, a mais nova moradora do pedaço.
Disposto e determinado, lá foi o Márcio, na maior cara de pau, investir contra a sua presa. Aconteceu bem ali na fila do pão da única padaria da região. Logo atrás da Creusa, que pediu dois pães.
Quando a moçoila se virou para ir pagar pela mercadoria, eis que o atendente, o velho André, olhou para o Márcio, como se querendo saber qual seria o pedido.
— Seu André, vou fazer que nem a moça bonita. Quero dois pães.
Isso fez com que a Creusa se virasse e encarasse o falastrão. Ela sorriu ironicamente e, troco na mão, foi embora. O Márcio pagou também e saiu desembestado atrás do alvo. Já perto da esquina, abordou a lindona.
— Ufa! Como você anda rápido!
— De vez em quando é preciso, moço.
— Hum! Me chamo Márcio.
— Ok.
— Não vai me falar o seu nome?
— E pra quê?
— Ué, pra gente se conhecer?
— Já conheço muita gente neste mundo, moço.
— Márcio!
— Que seja!
A mulher virou-se e entrou no prédio em frente. O conquistador ficou observando e, encucado, começou a conjecturar. Certamente, é do tipo difícil. Ah, mas deixa comigo que logo, logo ela estará aqui nos meus braços.
Não aconteceu, apesar das outras inúmeras tentativas, inclusive utilizando técnicas que o homem aprendeu na internet. Nada parecia funcionar com a Creusa. Até que, durante o aniversário da Loreta, os dois se encontraram. O problema é que a gatona estava acompanhada de outro homem.
Inconformado, o Márcio foi se lamentar com a Loreta. Gente, o que a Creusa via naquele outro, que era até barrigudo, ao contrário dele, com o abdome cheio de gominhos? Um disparate!
Os meses passaram, e parecia que o namoro da Creusa continuava firme. Foi aí que o Márcio, num ímpeto de loucura, se ajoelhou na calçada diante da moça.
— Creusa, eu te amo!
— Moço, tenho namorado!
— Hum! Aquele gordinho?
— Moço, um homem sem barriga é um homem sem história.
…………………….
Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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