Existe um famoso sítio arqueológico chamado Laetoli, no norte da Tanzânia. O local chama a atenção de arqueólogos desde 1976, quando foram descobertas pegadas icônicas de três membros da espécie de Lucy (Australopithecus asfarensis) há 3,66 milhões de anos.
O achado é um colírio para os olhos de historiadores, primeiramente por serem as pegadas humanas mais antigas já encontradas e por estarem muito bem preservadas. O trio caminhou por cinzas vulcânicas úmidas instantes antes delas virarem rochas duras, então os pés deixaram marcas perfeitas.
As autoridades da Tanzânia queriam construir um museu em Laetoli, para atrair turistas, e chamaram o pesquisador Fidelis Masao, da universidade local Dar es Salaam, para investigar o impacto que a construção teria sobre a valiosa geologia.
Ao analisar o terreno, Masao e seus colegas encontraram novas pegadas de dois humanos antigos.
Até agora, os pesquisadores descobriram 13 impressões pertencentes a um grande indivíduo – carinhosamente apelidado de S1 – e uma única cópia pertencente a um australopithecus menor, provavelmente uma mulher, chamada de S2.
Para Marco Cherin, da Universidade de Perugia, na Itália, o mais emocionante nas novas pegadas é notar o tamanho que o S1 teria.
Como os pés do S1 tinham 26 centímetros de comprimento – 3,5 cm maior que os outros pés encontrados em Laetoli – estima-se que o S1 tenha alcançado 1,65 metros de altura, comparável com os humanos modernos.
No entanto, para William Jungers, da Universidade Stony Brook, em Nova York (EUA), é preciso ter cautela antes de cravar seu tamanho. Não foram encontrados fósseis dos antigos humanos e não há como ter certeza se os australopithecus tinham pés e corpos nas mesmas proporções que nós.
As primeiras três pegadas de Australopithecus asfarensis tinham sido interpretadas como uma família de dois adultos e um jovem. Com os dois novos achados, cientistas mudaram a teoria sobre a ordem social do grupo.
“Ao ver que mais dois adultos estavam presentes, podemos supor que eles eram semelhantes aos gorilas: um único grande macho dominante, acompanhado por suas fêmeas e seus descendentes”, diz Giorgio Manzi, da Universidade Sapienza, em Roma.
As novas pegadas também podem ajudar a determinar se os Australopithecus asfarensis andavam como nós.
Alguns pesquisadores, como Robin Crompton da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, dizem que os perfis de profundidade das pegadas mostram claramente que os humanos antigos caminharam de uma forma moderna, com um arco bem desenvolvido no pé e usando o dedão para empurrar o chão.
Outros pesquisadores, incluindo Kevin Hatala, da Universidade de Chatham, na Pensilvânia (EUA), interpretaram as impressões de forma diferente. No início deste ano, Hatala concluiu que a marcha australóptica poderia parecer um pouco estranha aos olhos modernos, pois eles deviam curvar os joelhos quando cada pé atingia o chão.