O ano de 2018 promete deixar dois marcos profundos na carreira da atriz Amanda Acosta – depois de se consagrar, no primeiro semestre, com uma elogiável interpretação de Bibi Ferreira em Bibi – Uma Vida em Musical, ela se prepara para aumentar a coleção de prêmios ao trocar os óculos escuros pelos balangandãs e viver Carmen Miranda em Carmen – A Grande Pequena Notável, que estreia 15 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil, de São Paulo.
“Ambas são figuras notáveis, mas muito diferentes: se Carmen era de pular carnaval na rua, Bibi prefere o carnaval no palco”, diverte-se Amanda, que reafirma sua condição de uma das melhores intérpretes do musical brasileiro.
Afinal, suas encenações são fruto de intenso trabalho de pesquisa, em que os detalhes (mesmo os mais insignificantes) são cuidadosamente tratados. Para viver Bibi, por exemplo, Amanda descobriu o timbre correto da voz e a perfeita cadência para dizer as frases. Também os gestos econômicos e a postura dos ombros ligeiramente avançados não foram esquecidos. Já a composição de Carmen Miranda vem exigindo novas descobertas. “Era uma mulher muita expressiva com o corpo”, conta. “O mexer das mãos, por exemplo, que muitos imitadores gostam de fazer, tem um traçado muito específico, praticamente coreográfico. Parece fácil, mas não é.”
Amanda assiste com atenção a todos os filmes de Carmen, nos quais fez mais descobertas. “O olhar é irrequieto, vai de um lado para o outro e, para complicar, quando cantava alguma canção, os olhos e as mãos apontavam para outro significado.” Outro desafio está na voz – segundo a atriz, a Pequena Notável tinha uma cadência diferente, em que usava um tom grave ao falar, mas acrescentava timbres mais agudos quando cantava. De fato, Carmen era dona de um registro de meio-soprano de curta extensão.
É importante notar que, como fez em Bibi, aqui também Amanda não busca a perfeita imitação, mas oferece um trabalho em que homenageia as duas divas. “Fico nas nuances, na voz, nos gestos que captam melhor quem foi Carmen – não quero ser igual, mas oferecer uma interpretação em que, num pequeno gesto, o espectador identifique Carmen por inteiro”, comenta.
Curiosamente, Amanda pretendia levar Carmen Miranda para os palcos antes de Bibi Ferreira. “Fui convidada pelo Kleber (Montanheiro, responsável pela direção, cenário e figurinos) para entrar no projeto no ano passado. Aceitei logo, mas, como demorou o processo de captação de recursos, surgiu o musical sobre a Bibi”, conta.
Agora, como aquela produção está momentaneamente parada, Amanda retomou o projeto, que é uma adaptação do livro homônimo escrito por Heloisa Seixas e Julia Romeu, também autoras da versão teatral. Em seu trabalho de direção, Montanheiro optou pela estrutura e pela estética do Teatro de Revista brasileiro, do qual Carmen também participou. “Utilizamos a divisão em quadros, o reconhecimento imediato de tipos nacionais e a musicalidade presente, colaborando diretamente com o texto falado, não como um apêndice musical, mas sim como dramaturgia cantada”, conta o encenador.
Fiel ao estilo da época – Carmen se destacou nos anos 1930 e, até sua morte, em 1955, era uma estrela internacionalmente reconhecida -, Montanheiro optou ainda por uma curiosa forma de encenar. “As interpretações dos atores obedecerão à prosódia de uma época, influenciada diretamente pelo modo de falar ‘aportuguesado’, o maneirismo de cantar proveniente do rádio, onde as emissões vocais traduzem um período e uma identidade específica.” Em cena, Amanda vai dividir o palco com Daniela Cury, Luciana Ramanzini, Maria Bia, Samuel de Assis e Fabiano Augusto.
E, como a obra inspiradora do musical é destinada a um público infanto-juvenil, Carmen – A Grande Pequena Notável terá uma linguagem direta. “É um espetáculo destinado a toda a família, mas os mais jovens terão uma noção dessa mulher incrível. O que facilita é que Carmen era muito lúdica”, observa Amanda, às voltas com clássicos como a marchinha Mamãe, Eu Quero, criada por Jararaca e Vicente Paiva em 1937. “Não são canções nada fáceis e que fazem parte do nosso inconsciente. Muitas parecem ingênuas, mas possibilitam diferentes interpretações.”
Outro desafio enfrentado por Amanda em seu processo de caracterização parece mais prosaico, mas não é: o uso de sapatos com saltos enormes. Para compensar a altura de 1,53 m, Carmen se apoiava em plataformas de até 10 cm. “Com o tempo, ela até incorporou essa centimetragem à sua estatura, de tanto usar saltos”, comenta Amanda, obrigada a fazer inúmeros movimentos (especialmente dançar) com uma enorme saia e calçando o que chama brincando de “perna de pau”.