Quem me conhece sabe a paixão e encanto que tenho pela natureza, e provavelmente por isso sou uma das poucas pessoas que não a estudou, mas que conhece um pouco dos seus sinais.
Sou capaz de ficar horas observando o movimento de um pequeno inseto, o balanço das folhas de uma árvore, um entardecer e muitos outros encantos proporcionados pela vida.
Um desses prazeres são meus passeios pelas praias, fico horas sentada olhando o vai e vem das ondas, a música do mar capaz de relaxar e silenciar minha mente inquieta.
Sou suspeita em dizer que o litoral capixaba é para mim um dos mais bonitos, a diversidade presente, as diferenças entre uma praia e outra é de uma beleza única.
E, a natureza nunca é igual, o pôr do sol muda todos os dias, o mar é diferente todos os dias, tudo é diferente, não importa se você está no mesmo lugar todos os dias, se observar com calma, com o coração vai ver, nunca é igual.
Foi em um desses dias lindos, na praia da Areia Preta em Marataízes que algo no mínimo curioso aconteceu. Era um dia atípico, um daqueles dias com mar agitado, ondas altas e água completamente transparente, raro.
Não poderíamos perder tanta beleza e passamos o dia a contemplar o mar e curtir boas companhias.
À tarde, o mar havia se acalmado bastante, deixando pequenas piscinas transparentes por entre as pedras, a alegria da criançada, uma das praias preferidas dos pais devo dizer.
Meu filho, adolescente, aproveitava uma dessas piscinas, uma pequena poça com vegetações marítimas desconhecidas por nós formando um desenho bonito e raro.
Percebo ao longe alguns movimentos bruscos do meu filho, e o vejo sentado em uma das pedras ao lado da piscina com as pernas para cima.
Sendo uma mãe atenta e preocupada, me aproximei rapidamente e perguntei:
– O que houve?
– Fui atacado por aquele caranguejo, ele responde, não conhecendo a diferença das espécies.
Era um siri que continuava com as garras, aquelas pinças que eles têm levantadas, no meio da pequena piscina.
Eu ri e perguntei:
– Como assim, atacado por um siri? O que houve? Os siris correm dos seres humanos ao menor movimento.
– Também não sei, estava dentro da água e ele veio no meu pé, puxei e ele continuou atrás, subi na pedra e ele continua ali parado.
No mesmo instante algo me ocorreu, mãe é sempre mãe, e com certeza é uma siri mamãe e os filhotes estão por perto.
Com calma me aproximei enquanto pelas pedras para não ser atacada procurando com cuidado, rapidamente encontrei numerosos irmãos siris debaixo da pedra que meu filho estava.
– Mães são mães em qualquer lugar meu filho, desce daí e brinque em outra piscina, eu disse sorrindo, enquanto pensava nos pequenos milagres diários, são tão rotineiros, que não os vemos como milagres. Penso eu que, nos livros e na natureza, estão nossas melhores lições.
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Mércia Souza, mãe, avó, artesã crocheteira e escritora. Três livros publicados, participação em diversas antologias, descobriu sua paixão pela escrita aos 12 anos na biblioteca municipal Rubem Braga. Atualmente reside na cidade de Cachoeiro de Itapemirim – ES.