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O bem do Natal deve se estender durante todos os dias do ano

Entre os textos da liturgia católica no tempo do Advento, que antecede o Natal, destaca-se, pela poesia e pela esperança que carrega, o capítulo 11 do livro do profeta Isaías, sobre os tempos messiânicos:

“Um broto sairá do tronco de Jessé, e um rebento nascerá de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor… Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá; a vaca e o urso se fraternizarão, suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi. A criança de peito brincará junto à toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra estará cheia da ciência do Senhor, assim como as águas enchem o mar”.

No tempo do Natal, cristãos e não cristãos são tocados pela alegria, por sentimentos de solidariedade e fraternidade, sorriem e se abraçam e multiplicam gestos de fraternidade. Os pobres são lembrados; a cidade grande se faz bonita, enche-se de luzes, ergue árvores enfeitadas. O povo troca presentes, há um ir e vir de cartões recheados de palavras gentis e bons votos.

Parece um pouco o mundo novo descrito por Isaías. Acabado, porém, o período de festas, tudo volta a ser como antes. Adiamos o mundo novo que vivemos no Natal: fazemos o estágio, treinamos e ficamos por aí. Não estaria na hora de por mãos à obra e continuar a construção desse mundo bonito anunciado pelo profeta e experimentado no Natal?

É preciso reconhecer que muitos vivem um tempo de Natal permanente, tocados pela fé ou simplesmente pelos sentimentos de fraternidade e solidariedade. Penso em hospitais, como a Maternidade Amparo Maternal; no trabalho dos grupos que se dedicam à população de rua ou da cracolândia; penso nas obras assistenciais e de promoção humana de várias denominações cristãs e não cristãs. Cristo criança, Cristo pobre, Cristo descartado pela economia baseada no lucro, é acolhido, curado, valorizado, amado de mil modos e jeitos. Louvado seja Deus por isso!

Devemos, porém, tomar consciência do mundo de dor e solidão, de miséria absoluta e abandono em que ainda vivem filhos amados de Deus. Precisamos ir além do estágio, ir do ensaio à prática. Deus concretizou o seu desígnio de salvação, fazendo com que seu filho, que era Deus no céu, viesse a ser Deus na terra; que era Deus com o Pai e o Espírito Santo desde sempre viesse a nós, para ser Emanuel-Deus conosco.

Que a presença do filho de Deus encarnado em nossa realidade humana nos ajude a construir o mundo sonhado por Isaías, para que a paz cubra a nossa terra como um manto.  Que o bem praticado se multiplique. Que os corações abertos ao Cristo que vem ao nosso encontro permaneçam abertos ao Cristo ferido, humilhado descartado, desempregado, deitado sob as nossas marquises e pontes, emigrante, refugiado. Cristo criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, homem, mulher.

Feliz vivência do Natal para todos!

Dom Odilo Pedro Scherer

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