Notibras

O dia em que Clóris, traída, vingou-se por ela e pelas amantes do marido

– Nestor entrou no cinema Central abraçado a uma mulher!

Clóris desligou na hora, sem agradecer a informação maldosa da amiga ou fazer algum comentário. Pegou a chave do carro e saiu à caça. Sabia exatamente o que estava acontecendo: quando namoravam, Nestor era
fissurado em fazer coisinhas libidinosas no escurinho do cinema. Mil vezes escaparam por pouco do flagra anunciado por Rita Lee.

O tempo passou, o Sheik Valentino/Nestor e Mae West/Clóris casaram, tiveram filhos, e o amor se burocratizou. “Meu taradinho adorável virou um cinquentão careta que me trata respeitosamente, como a Esposa, e reserva o que sobrou de sua libido para as outras”, pensou, enquanto dirigia rumo ao cinema.

A lembrança de Flagra, de Rita Lee, a fez recordar outra canção, Filme triste. Enredo bobinho, uma adolescente vai ao cinema e vê seu amor agarradinho à melhor amiga dela, trocando beijos.

Já dentro da sala, o refrão surgiu em sua cabeça: “Oh oh oh filme triste, que me fez chorar”. Sorriu, desdenhosa, nunca havia chorado por homem algum, nem quando era uma mocinha de 13 anos que sonhava com o príncipe encantado. De imediato, parafraseou o refrão: “Oh filme de ação, que me fez barbarizar”. Em seguida, falou em voz baixa:

– Tempo de barbarizar.

Logo avistou Nestor, agarradinho a uma mulher, trocando beijos, enquanto as respectivas mãos se ocupavam em baixo. Aproximou-se em silêncio e deu uma bofetada na vadia, pegando-a depois pelos cabelos. A mulher tentou revidar, mas a investida de surpresa e a superioridade moral da esposa ultrajada a fizeram fugir, chorando, na primeira oportunidade.

Em casa, Clóris e Nestor discutiram aos berros, quebrando objetos da sala, e depois caíram na cama. Não foi sexo de reconciliação, e sim de extravasar emoções reprimidas. De qualquer modo, foi uma delícia, e fez Nestor dizer a si mesmo, todo pimpão, pouco antes de adormecer:

“Era disso que a matriz precisava, rsrs. Depois faço o mesmo com a filial. As duas vão ficar ainda mais apaixonadas!”

Quando escutou o marido roncando como um porco, saciado pastor de fêmeas, Clóris levantou-se e foi à cozinha. Voltou com uma faca pontuda e afiada, que cravou no saco de Nestor. Não a ponto de castrá-lo, não iria para a cadeia por causa daquele traste; só o suficiente para doer muuito e inundar de sangue o leito do casal. Em seguida foi-se vestir para esperar a chegada da equipe de primeiros socorros.

Deu um suspiro, tudo o que é bom uma hora acaba. O tempo de barbarizar chegara ao fim.

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