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Guerreiros

O dia em que o bravo Temístocles virou cinzas

Publicado

Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

A ilha rochosa ficava no Atlântico, a oeste do estreito de Gibraltar, conhecido na época como Colunas de Hércules. Um pequeno barco, manejado por um único homem, aproximou-se da estreita faixa de areia junto às encostas. O navegante imobilizou-lhe a proa na areia e saltou em terra.

Logo em seguida, pegou na embarcação seu equipamento – perneiras, couraça peitoral, lança, escudo e espada – e armou-se para um eventual combate. As sandálias e perneiras eram de couro de boi; o restante, confeccionado no melhor bronze. Essas eram as armas visíveis, talvez houvesse outras, dissimuladas sob a veste.

Depois veio a parte ritual. O navegante metamorfoseado em guerreiro retirou do interior do barco uma ânfora de vinho, quebrou-lhe o lacre e derramou um pouco da bebida na areia, em uma libação em louvor dos deuses protetores de sua pólis.

Ao mesmo tempo, pronunciou com voz vibrante as palavras:

– Em nome de Zeus, deus dos deuses, e das divindades protetoras de Corinto, minha cidade natal, eu, Temístocles, tomo posse dessa terra!

– Engana-te, heleno! A terra é nossa, estás em solo atlante!

Essas palavras foram proferidas por um guerreiro tão forte quanto o recém-chegado, equipado com armas de aparência tão letal quanto as dele, que descia a encosta e se aproximava da praia.

Temístocles olhou-o bem, reconhecendo o poder do potencial adversário, e preferiu explicar:

– A população das cidades-estado helênicas aumenta, é imperativo estabelecer colônias. Minha pólis, Corinto, fundou Siracusa e outros núcleos na península a oeste da Hélade. Mas eu, Temístocles, ousei ir ainda mais para oeste, deixando para trás as Colunas de Hércules, e encontrei essa terra. Não abrirei mão dela!

– A população helênica aumenta, disseste? – retrucou o atlante. – Pois os habitantes de minha amada Atlântida praticamente desapareceram; Homens, mulheres e crianças foram vitimados pela ira de Poseidon, o deus do mar, assim como a terra firme, engolida pelas águas.

Silenciou por um momento, como se lutasse para conter a emoção, e prosseguiu:

– Mas restou um punhado de guerreiros valentes para defender o punhado de ilhas remanescentes da destruição de nossa pátria. Sou um deles. Então, embarque de volta para a Hélade!

– Nunca! – rugiu Temístocles. – Essa ilha pertence aos deuses de Corinto. Lutaremos até a morte!

– Até a morte! – rugiu em concordância o atlante. E imediatamente arremessou sua lança contra o heleno, quase lhe quebrando o escudo.

Temístocles devolveu o golpe, danificando seriamente o escudo do antagonista. Sem as lanças, os dois se aproximaram e sacaram das espadas. O combate era de perto, quase corpo a corpo; os escudos, atingidos por um sem-número de golpes, ofereciam pouca proteção e pareciam mais pesados a cada momento.

De repente, em uma concordância silenciosa, ambos lançaram o escudo contra o rosto do outro. Os dois erraram, e o combate prosseguiu, ainda mais mortífero. O heleno e o atlante já haviam recebido graves ferimentos mas investiam um contra o outro, ignorando a dor. Os guerreiros arquejavam, em busca de fôlego para, em um último esforço, liquidar o opositor.

De repente, o atlante deu um passo para trás. “Ele vai se render!”, concluiu Temístocles, exultante. “Ainda bem, não sei se conseguiria vencê-lo”, admitiu, “está sendo o confronto mais árduo de minha vida!”

O guerreiro da Atlântida, porém, tinha outras intenções. Retirou da túnica sob a couraça uma arma de raios – tecnologia atlante, coisa de primeiro mundo –, berrou “Chega de palhaçada!” e disparou contra o pobre Temístocles, reduzindo-o a cinzas.

Moral da história: com superioridade tecnológica, não tem pra ninguém.

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